Título: Itaipu paga R$ 250 mil ao ano à mulher de Bernardo
Autor: José Antonio Pedriali
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/04/2005, Nacional, p. A12

LONDRINA - Gleisi Hoffmann, mulher do ministro de Planejamento, Paulo Bernardo (PT-PR), atingiu o auge da carreira em janeiro de 2003, quando foi nomeada diretora financeira executiva de Itaipu Binacional. Aos 38 anos, ela recebe, como os demais diretores da empresa, um salário líquido aproximado de R$ 16 mil - pago 16 vezes por ano. Além dos 13 salários a que têm direito qualquer trabalhador com carteira assinada, os de Itaipu recebem anualmente a participação nos lucros e resultados, um abono - geralmente em novembro - e as férias em dobro, enquanto na iniciativa privada as férias são pagas com 30% de acréscimo.

A binacional possui seis diretorias representativas de cada país, duas delas ocupadas simultaneamente por dois titulares. O orçamento da empresa, controlado por Gleisi e pelo diretor paraguaio equivalente, é estimado em US$ 2,4 bilhões este ano. A margem disponível para investimentos de cada país corresponde a 1,5% desse valor - o equivalente a US$ 32 milhões. Os recursos de Itaipu são quase inteiramente absorvidos pela amortização da dívida e pagamento de salários e royalties.

HISTÓRICO

A carreira de Gleisi, que nunca ocupou cargo na iniciativa privada, se funde com sua militância no PT, ao qual se filiou em 1989, depois de abandonar o PC do B, e com a trajetória do marido, deputado licenciado, que cumpre o terceiro mandato. Ela faz parte da executiva paranaense do partido.

Gleisi foi levada a Brasília por Bernardo, depois de ter atuado como assessora parlamentar na Assembléia Legislativa do Paraná, com a liderança do PT. Pessoas próximas do casal afirmam que o trabalho dela foi fundamental para projetar a imagem de Bernardo, que se destacou na CPI do Orçamento e, com isso, transformou-se em referência no assunto. Antes de se licenciar para assumir o Planejamento, Bernardo era o presidente da Comissão Mista do Orçamento do Congresso.

Formada em direito, Gleisi especializou-se em orçamento e gestão de finanças públicas, com pós-graduação em gestão de organizações públicas. O casal foi levado a Mato Grosso do Sul pelo governador Zeca do PT em seu primeiro mandato, em 1999. Bernardo assumiu a Secretaria de Fazenda e Gleisi, um cargo no segundo escalão. Logo depois, ela seria promovida a secretária de Reestruturação e Ajuste do Governo.

Com a vitória do petista Nedson Micheleti em 2000, Bernardo mudou-se para Londrina, sua base eleitoral, para comandar a Secretaria de Fazenda e preparar o retorno à Câmara. Ele havia fracassado na eleição anterior. Bernardo ficou apenas um ano como secretário e, ao se demitir, sua esposa foi nomeada para a então Secretaria de Administração, rebatizada de Secretaria de Gestão Pública.

Gleisi desligou-se da prefeitura de Londrina após a vitória eleitoral de Luiz Inácio Lula da Silva para secretariar, por indicação do marido, segundo pessoas próximas do casal, a equipe de transição. Os trabalhos eram comandados pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci.

Na direção de Itaipu, Gleisi liberou recursos para uma campanha publicitária da prefeitura de Londrina intitulada Maluquinho por Londrina. A campanha, segundo a assessoria de imprensa de Itaipu, consumiu "menos de R$ 50 mil".