Título: Juro reduz intenção de investimentos
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/04/2005, Economia, p. B1

A alta persistente dos juros já afeta a intenção dos empresários brasileiros em fazer novos investimentos. Levantamento do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) mostra que os anúncios de investimentos no País caíram 26,5% do terceiro para o quarto trimestre de 2004, quando o Banco Central passou a adotar uma política monetária mais restritiva, com a elevação da taxa Selic. De um saldo de US$ 31,233 bilhões em projetos anunciados de junho a agosto, o valor recuou para US$ 22,938 bilhões nos últimos três meses do ano - uma redução de US$ 8,295 bilhões. No segundo semestre, os investimentos anunciados somaram US$ 54,161 bilhões, 3,3% a menos que no primeiro semestre.

A análise é feita com base nos dados sobre pedidos de investimento encaminhados pelas empresas ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e solicitações de redução de impostos pelo Regime de Ex-tarifários (importação de máquinas e equipamentos sem similar nacional), além do próprio banco de dados do Ministério e de órgãos vinculados, como a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa). Outra fonte de informações são os anúncios divulgados pelas empresas.

Para o Ministério, os números não são motivo para preocupação, mas o setor privado tem avaliação diferente. "Muitos empresários que apostavam num crescimento mais vigoroso do mercado interno resolveram fazer uma parada técnica nos planos de novos investimentos", diz Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). "Embora isso não chegue a ser catastrófico, é uma pena, porque a economia poderia estar crescendo mais e gerando mais empregos."

O secretário do Desenvolvimento da Produção do MDIC, Antônio Sérgio Martins Mello, afirma que não diminuiu o interesse das empresas em investir. "Não consigo ver esse lado", diz Mello. Segundo ele, para uma informação mais clara sobre o processo seria preciso acompanhar a execução desses projetos. "Como ainda não temos isso monitorado, não podemos falar sobre descontinuidade ou redução no ritmo dos investimentos."

ESPERA

Um caso concreto é da Maqplas, fabricante de máquinas para produzir embalagens plásticas flexíveis, com sede em Osasco, região metropolitana de São Paulo. A empresa tem projeto de instalação de uma nova unidade para ampliar em 20% a capacidade atual de produção, mas os planos ainda não saíram do papel.

"Estávamos avaliando o projeto quando tivemos a alta dos juros e mais tarde a valorização do real", diz Maristela Miranda, diretora comercial da Maqplas. "Nessas circunstâncias, resolvemos adiar os investimentos até o cenário ficar mais claro." A empresa exporta quase 50% da produção.

A CCE, fabricante de produtos eletroeletrônicos de consumo popular, havia programado investir US$ 150 milhões até o ano que vem mas, diante da escalada dos juros esticou o prazo para 2007. "Em vez de andar a 100 km/h estamos a 60", diz Synésio Batista da Costa, vice-presidente de Relações Institucionais da empresa. "Os investimentos estão ocorrendo, só não estamos acelerando os desembolsos para não haver endividamento". Entre os projetos está a instalação de uma fábrica de celulares na Zona Franca de Manaus, com capacidade para 2,5 milhões de aparelhos ao ano.

Já o Grupo Orsa, que atua no setor de celulose, papel e embalagens, está investindo US$ 73,5 milhões. A decisão de investir foi tomada em meados no ano passado. "Se fosse hoje, eu pegaria esse dinheiro, aplicaria no mercado financeiro e ficaria quietinho no meu canto", afirma Sérgio Amoroso, presidente do grupo.