Título: Governo não vê sinal de desaceleração
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/04/2005, Economia, p. B3

Os números que mostram desaceleração dos investimentos no último trimestre de 2004 não preocupam o governo. Segundo o secretário do Desenvolvimento da Produção, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Antônio Sérgio Martins Mello, a tendência é de crescimento. "Tenho visto um baita interesse das empresas em investir", afirma. A seguir, os principais trechos da entrevista. As empresas colocaram o pé no freio nos investimentos?

Não estou vendo isso. O que eu tenho visto é um baita interesse das empresas em investir. Temos recebido muitos investidores e basta examinar a sistemática de ex-tarifários para ver que há projetos importantes sendo decididos pelas empresas.

Quem são eles?

Há um movimento de capitais no mundo e esse circuito passa pelo Brasil. Quase todos os dias recebemos visitas de empresas internacionais querendo saber as condições para investimentos no País. Há interesse em investir especialmente nas indústrias de base, como siderurgia e papel e celulose. Como elas estão vindo com muita freqüência, eu não consigo ver desinteresse, apesar das queixas contra os níveis dos juros e do câmbio. Ao contrário, as consultas estão se intensificando cada vez mais.

Então, a tendência para os investimentos este ano é crescente?

Sem dúvida nenhuma. É crescente, porque há uma perspectiva de expansão do mercado interno. Na indústria de base, isso já está ocorrendo.

O que dá essa perspectiva aos empresários?

A gente começou a observar essa tendência desde o ano passado, quando o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu 5,2% e a produção industrial teve expansão de 8,3%. O que puxou a produção foram os setores de bens de consumo duráveis e bens de capital. Estes últimos cresceram 20,4% . Então, já se começou a trabalhar internamente. No comércio exterior, chegamos a um fluxo de US$ 100 bilhões. Os investimentos diretos estrangeiros subiram para US$ 18 bilhões, contra US$ 10 bilhões em 2003. Isso tudo caracteriza uma retomada de demanda.

Qual o papel da política industrial nesse contexto?

Nós lançamos vários programas. O Modermaq, por exemplo, é muito interessante, porque dá previsibilidade em relação aos desembolsos. O empresário paga uma prestação fixa, com juros que hoje são de 14,95% ao ano. Isso dá previsibilidade para o pequeno e médio empresário.

Qual deve ser o perfil dos investimentos este ano?

Acho que vai haver um movimento relevante na indústria de base. Hoje, se fala muito em siderurgia. A capacidade instalada do setor deve estar em torno de 30 milhões de toneladas/ano. Nos últimos dez anos, a evolução dessa capacidade foi muito acanhada. A China, que há 10 anos tinha a mesma capacidade que nós, hoje consegue produzir mais de 200 milhões de toneladas/ano. Veja o distanciamento que houve de países que competem por investimentos com o Brasil. Mas hoje vejo que vamos crescer nas áreas de base, como celulose, siderurgia e petroquímicos. Nessas áreas, as decisões de investimento já estão ocorrendo. Não há dúvidas de que vamos ter investimentos também em bens duráveis. Vamos ter de investir, por exemplo, em novas plataformas de veículos nos próximos dois anos.

Qual é a importância da indústria de base nesse processo?

É a raiz de um processo de adensamento de cadeia. Para produzir TVs, por exemplo, é preciso ter o poliestireno para fazer a moldagem do aparelho. Esse adensamento é fundamental para competir no mundo globalizado.