Título: Todas as empresas tornaram-se pontocom
Autor: Renato Cruz
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/04/2005, Economia, p. B6

Além dos 10 anos da internet comercial no Brasil, existe outra data importante a ser lembrada: o estouro da bolha de tecnologia fez cinco anos este mês. Em 14 de abril de 2000, a bolsa eletrônica Nasdaq caiu 9,67%. O mercado continuou para baixo e, até o fim daquele ano, 370 empresas americanas de internet, de capital aberto, perderam 75% do valor, o que representou mais de US$ 1 trilhão em capitalização que sumiram em um só ano.

Como muito do dinheiro que veio para as empresas de internet brasileiras era estrangeiro, o estouro também teve efeitos devastadores por aqui. Cinco anos depois, passadas a euforia e a depressão, os negócios da internet vivem um momento de normalidade, onde riscos e chances de sucesso são quase iguais às do mundo físico.

"Hoje, a empresa que não faz negócios pela internet deixa de ser competitiva", afirma Eduardo Nader, presidente do Mercado Eletrônico, especializado no comércio eletrônico entre empresas.

O Mercado Eletrônico - que tem como sócio o Citibank, GP Investimento e Opportunity, além dos fundadores - foi criado antes da internet comercial no Brasil, em junho de 1994. Apesar das dificuldades enfrentadas no período de 2000 e 2001, a empresa conseguiu manter-se no mercado e, de acordo com Nader, ficar no azul desde o começo do ano passado.

O que era chamado e-business tornou-se somente business. Aleksandar Mandic - pioneiro da internet brasileira e dono de uma empresa especializada em correio eletrônico que leva o seu sobrenome - concorda com esta visão: "Quando abre uma empresa, ninguém pergunta se vai ou não usar água ou eletricidade. O mesmo acontece com a internet. Se não tiver e-mail, não tem jogo." Para Mandic, a internet é uma das invenções que tiveram mais impacto no mundo. "Dividiu claramente uma era", afirma. "Quase como o nascimento de Cristo."

Em 31 de março, o Submarino, segundo maior varejista da internet, abriu seu capital, levantando R$ 472,9 milhões. Apesar de as ações não terem apresentado performance muito boa, acumulando 10% de queda desde a oferta pública, o fato de a empresa ter conseguido colocar papéis na Bolsa de Valores de São Paulo já pode ser tomado como um sinal de maturidade do mercado.

Para José Eduardo Ferreira, vice-presidente da WebMotors, especializada no mercado automotivo, o Submarino é exceção no panorama atual da internet brasileira. "Hoje não consigo ver espaço para empresas puramente pontocom, sem uma base de sucesso no mundo real", afirma Ferreira.

Com 10 anos de existência, a WebMotors pertence há três anos ao Banco Real ABN Amro. A financeira da instituição tem uma força de vendas de 700 pessoas em todo o Brasil, que também vendem os serviços da WebMotors, como anúncios online.

O iG, pioneiro da internet gratuita no País, viu concorrentes como Super11, NetGratuita e Gratis1 saírem do mercado. Para sobreviver, teve de se adaptar. Começou a investir em serviços pagos, como o acesso rápido à internet e, em 2004, tirou a palavra grátis do nome, passando a chamar Internet Generation, apesar de continuar oferecendo acesso gratuito.

"O iG conseguiu criar um modelo diferente, com uma estrutura pequena e bem flexível", afirma Flávia Hecksher, gerente de Marketing do iG. "Enquanto outros provedores têm pacotes fechados de serviço, o iG oferece vários serviços." Como ocorreu com a WebMotors, o iG aliou-se a uma grande operação do mundo real: a empresa pertence à operadora Brasil Telecom.