Título: FMI cobra aperto fiscal nos Estados Unidos
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Fonte: O Estado de São Paulo, 17/04/2005, Economia, p. B15

WASHINGTON - O Comitê Monetário e Financeiro do FMI cobrou ontem do governo americano medidas para ajustar suas contas e para impedir que o déficit externo, acima de US$ 600 bilhões, continue a crescer. Cobrou também mudanças cambiais na Ásia - leia-se China - e reformas que estimulem o crescimento econômico no Japão e na Europa. O objetivo dessas medidas seria equilibrar a economia mundial e impedir que um ajuste desordenado cause estragos nos mercados internacionais, com prejuizos principalmente para as economias em desenvolvimento. O Comitê, principal órgão de representação política do FMI, é formado por 24 ministros de Finanças que falam em nome dos 184 países membros da organização.

"Se houver um aumento brusco nos juros americanos de longo prazo - o que já começou a ocorrer em meados de fevereiro -, isso poderá prejudicar a demanda interna, provocar uma redução dos preços dos ativos de maior risco e levar a uma deterioração as condições de financiamento dos mercados emergentes", disse na reunião do Comitê o diretor-gerente do FMI, Rodrigo de Rato.

O principal desafio no curto prazo, segundo De Rato, é administrar a elevação dos juros, principalmente nos EUA, para que não criar instabilidade no mercado financeiro. O banco central americano, o Federal Reserve, tem aumentado os juros em doses de 0,25 ponto porcentual, num ritmo considerado razoável. Uma aceleração poderia afetar os fluxos de capitais e criar problemas principalmente para as economias endividadas, mesmo para aqueles que vêm apresentando políticas consideradas prudentes. O ministro da Fazenda do Brasil, Antônio Palocci, havia comentado esse risco no dia anterior.

Mas ações diferentes são recomendadas para países em diferentes fases do ciclo econômico. O diretor-gerente do FMI defendeu uma cautelosa elevação dos juros nos EUA e na China. Na zona do euro, é preciso manter, por enquanto, uma política de acomodação, "sem excluir a hipótese de um corte de juros". No Japão, é preciso conservar a política frouxa, para que o país saia definitivamente da prolongada recessão.

Se o dólar continuar a desvalorizar-se, disse De Rato, será preciso tornar as políticas mais diferenciadas. Nos EUA será necessário continuar o aperto para restringir o consumo e adotar medidas mais brandas nos países com moedas em valorização. Até agora, outros países têm comprado papéis americanos e financiado os déficits tanto internos quanto externos dos EUA, mas um apetite menor pelos papéis poderá levar a uma rápida depreciação do dólar e a uma forte alta dos juros americanos. O Comitê cobrou da Argentina um entendimento com os credores não incluídos na reestruturação da dívida. Mas incluiu no comunicado o reconhecimento do esforço de negociação.