Título: Grupo ignora apelo do Planalto e decide disputar comando do PT
Autor: Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/04/2005, Nacional, p. A4

O governo sofreu ontem duro revés provocado pela facção petista Movimento PT, que é de tendência moderada e quase sempre está próxima do chamado Campo Majoritário. Num encontro de dois dias, no Hotel Nacional, em Brasília, a tendência ignorou os apelos do ministro da Casa Civil, José Dirceu, e do PT, decidindo lançar a deputada Maria do Rosário (RS) para disputar, em dezembro, a presidência do partido contra o atual presidente José Genoino, apoiado pelo Palácio do Planalto. O embaixador do Brasil em Cuba, Tilden Santiago, um dos líderes da facção Movimento PT, eletrizou os militantes com um discurso contra o governo que integra, cobrando mais ética e criticando a hegemonia dos paulistas do Campo Majoritário. "Queremos voltar a ter um partido ético, nacional e não um partido mineiro ou paulista", disse, arrancando aplausos dos militantes que ficaram em pé para ovacioná-lo.

Tilden acusou a direção nacional do PT de ter vergonha de se dizer socialista e disse que está na hora de escolher, para dirigir o partido, alguém que não se acanhe de pedir um governo socialista e democrático. Como exemplo de um governo socialista e democrático ele citou Cuba, do ditador Fidel Castro, onde é embaixador.

O discurso foi tão forte que, logo após, o líder do governo na Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), o chamou a um canto e pediu mais moderação. "Você é embaixador do Brasil em Cuba. Imagine a imprensa ouvindo isso", advertiu Chinaglia. Tilden não quis ouvir: "Eu já falei com o Zé Dirceu e o Lula que essa é minha posição. Se daqui a dois anos as coisas continuarem assim, eu saio", respondeu. "Eu não, eu fico", retrucou Chinaglia.

AMPLA MAIORIA

O líder do governo, que um dia antes do encontro tinha almoçado com o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) e José Dirceu, fez o que pôde para evitar que a facção Movimento PT lançasse candidato próprio. Ele manobrou para que a decisão não fosse tomada no calor da discussão. Conseguiu adiar por 30 minutos os veementes debates entre os que defendiam a candidatura própria, lançando a deputada Maria do Rosário (RS), e os que queriam fechar apoio à chapa do atual presidente, José Genoino. O ex-deputado Padre Roque (PT-PR) reclamou do prolongamento do debate e ouviu do líder do governo que "a mesa diretora era mais democrática do que o governo Requião (governador Roberto Requião, PMDB)", que o petista apoiou nas eleições de 2002 no Paraná.

Na hora da votação, pouco mais de 20 militantes apoiaram Chinaglia, enquanto uma esmagadora maioria votava por um candidato próprio da tendência. A direção do encontro declarou que a proposta foi aprovada por 90% dos presentes, mas o numero de votantes sugeria uma vitória ainda mais ampla.

Na galeria dos que se posicionaram contra o apoio ao candidato do Planalto estava, também, o petista brasiliense Geraldo Magela, recém-indicado para a presidência do Banco Popular do Brasil. A alguém que lhe perguntou se não temia ser demitido, ele respondeu: "Não posso ser demitido porque ainda nem assumi", ironizou. A sério, ressaltou que o debate em torno da eleição da presidência do partido "faz parte da história do PT".

Já eleita, a deputada Maria do Rosário fez um discurso moderado. Ela não chegou a pedir um governo socialista, como Tilden.

Ao final, Maria do Rosário recebeu elogios de Chinaglia, que preferiu minimizar a derrota. "Estou muito maduro, não me impressiono com isso", disse. Com elegância, o líder do governo ressalvou que a unidade se fortalece com os debates. "É público e notório que há divergências dentro do governo e do PT", reconheceu.