Título: Petistas com cargo no governo passam a sonegar dízimo
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/04/2005, Nacional, p. A5

Alguns estão insatisfeitos com a forma da cobrança e dispostos até a se desfiliar do PT

Até o PT começa a sofrer com a onda de insatisfação que toma conta do País por causa do confisco tributário da renda dos brasileiros. Obrigados a contribuir mensalmente para os cofres do partido com até 10% de seus salários, vários petistas nomeados para cargos de confiança na administração federal decidiram simplesmente sonegar o dízimo. De acordo com levantamento realizado pelo Estado entre assessores da Esplanada dos Ministérios, em Brasília, a inadimplência pode chegar a 50% em alguns escalões.

No início de 2003, quando o presidente Lula recém havia tomado posse, o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, estimava que o orçamento do PT poderia engordar cerca de R$ 18 milhões anuais com a cobrança dos comissionados. Na época, o partido havia reduzido o número de DAS - principal cargo de confiança da administração federal - de 18.374 para 17.559. No final de 2004 esse número já havia pulado para 19.083, mas o partido não conseguiu atingir sua meta de arrecadação.

A reportagem do Estado procurou obter informações da Tesouraria do PT sobre os valores efetivamente recolhidos no ano passado, mas não obteve resposta. Apenas o presidente do PT, José Genoino, tentou argumentar que as contribuições não são compulsórias e exigidas apenas de quem não tem vínculo com o serviço público. "As pessoas de carreira não contribuem pela tabela dos cargos de confiança, apenas como filiados normais", disse Genoino.

Segundo ele, o governo Lula substituiu 6.633 DAS recebidos da gestão anterior, o que representa 35% do total - um grau de rodízio que, conforme o presidente do PT, seria menor do que o verificado no governo anterior. "O PT não está aparelhando o Estado, nem aproveitando os DAS para fazer finanças", diz Genoino.

Pela tabela de contribuições ao PT, os ocupantes de cargo de confiança precisam descontar de 2% a 10% de seu salário líquido. A contribuição máxima é cobrada de quem ganha mais de 20 salários mínimos - R$ 6 mil a partir de maio. No início do governo, os petistas agraciados com DAS foram chamados a assinar um documento autorizando o débito automático de suas contas bancárias, mas nem todos fizeram isso.

Enquanto alguns assessores do governo consultados pelo Estado confirmaram que não estão contribuindo para o partido, outros se declararam insatisfeitos com a forma como é feita a cobrança e dispostos até mesmo a se desfiliar. "Os caras são jogo duro, não negociam, não ajustam automaticamente a contribuição às mudanças do salário mínimo e cobram desconto até do 13.º salário", afirma uma petista da Esplanada, que no ano passado teve de ameaçar o gerente do Banco do Brasil para conseguir o estorno da cobrança extra em dezembro.

Já entre os que não estão contribuindo, há um certo sentimento de culpa. "Acho justo ter de pagar o PT, sempre paguei, mas não estou contribuindo desde que vim para Brasília porque tive problemas pessoais", relata outro assessor petista. "A vida aqui em Brasília é muito cara e o que nos pagam não é suficiente." Apesar das queixas, a média salarial de um DAS é hoje R$ 4.833, superior à média de R$ 3.220 do conjunto dos servidores do Executivo, incluindo aposentados. Além disso, o DAS que se muda para Brasília tem direito a um auxílio moradia de R$ 1.800 mensais.