Título: Irã manterá seu programa nuclear
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Fonte: O Estado de São Paulo, 04/05/2005, Internacional, p. A13

Chanceler qualifica EUA e Israel de ameaças e porta-voz diz que Teerã retomará em breve algumas atividades relativas ao projeto.

O chanceler iraniano, Kamal Kharrazi, declarou ontem que o Irã vai prosseguir suas atividades nucleares, entre elas um tipo de processamento de urânio que poderia ser usado para a fabricação de armas, e acusou os EUA e Israel de ameaçarem a paz internacional com os próprios arsenais atômicos. Mas ainda não há decisão sobre quando retomar o enriquecimento de urânio. Em discurso na conferência de revisão do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP), na sede da ONU, Kharrazi rebateu as acusações de que o Irã é uma ameaça, destacando que o país é signatário do tratado e está ansioso para dar garantias de uso pacífico de sua tecnologia nuclear: "O Irã está determinado a levar adiante todas as áreas legais de tecnologia nuclear, incluindo o enriquecimento, exclusivamente para fins pacíficos."

Ele lembrou que há países do Oriente Médio que não assinaram o tratado, como Israel. Kharrazi também criticou os EUA - que acusam Teerã de usar seu programa de energia nuclear como fachada para desenvolver armas nucleares - por não eliminarem seu arsenal atômico, como exige o TNP, de 1970. "Deveriam ser impulsionadas medidas vigorosas de desarmamento nuclear unilateral."

Em novembro, num acordo preliminar com a UE, Teerã congelou seu programa de enriquecimento de urânio, mas no fim de semana ameaçou retomá-lo, ante a estagnação das conversações com o bloco europeu. Ontem, um porta-voz da chancelaria iraniana, Hamid Reza Asefi, disse que o Irã retomará "em breve" algumas atividades relativas a seu programa nuclear que haviam sido suspensas, sem especificar quais. Ele indicou, entretanto, que não será retomado, pelo menos por enquanto, o enriquecimento de urânio. Um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional do Irã, Agha Mohammadi, disse que ainda não foi tomada uma decisão sobre quando recomeçaria o enriquecimento.

Após o discurso de Kharrazi, os EUA - que têm insistido que a retomada de qualquer atividade nuclear pelo Irã seria uma violação da promessa iraniana de manter todo o programa congelado enquanto houver negociações em andamento - voltaram a pedir que o fim definitivo do projeto. "Não há nenhuma razão para que (os iranianos) tenham um programa de enriquecimento e reprocessamento de urânio", disse o porta-voz do Departamento de Estado, Richard Boucher. "Sabemos como foi utilizado no passado e a única maneira de assegurar ao mundo que não constituirão uma ameaça nuclear é que esses programas sejam eliminados."

As crescentes tensões sobre Irã e a Coréia do Norte - que afirma possuir armas nucleares - ameaçam ensombrecer a conferência de um mês de duração. Os EUA pressionaram na segunda-feira os outros 188 países presentes na conferência a assegurar que sejam negados ao Irã e à Coréia do Norte os benefícios do desenvolvimento pacífico da energia nuclear, pelo fato de ambos os países terem violado o tratado.