Título: Maiores diferenças entre nós e os chimpanzés não estão no cérebro
Autor: Cristina Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/05/2005, Vida, p. A18

Estudo mostra que elas são verificadas mais no sistema de defesa e na formação de gametas sexuais

Uma equipe internacional de pesquisadores publicou ontem, na revista eletrônica PLoS Biology (www.plosbiology.org), um estudo genético qualitativo sobre quais funções biológicas mais mudaram após o homem e seu parente mais próximo, o chimpanzé, se separarem na escala evolutiva, entre 5 e 6 milhões de anos atrás. Eles compararam 13.731 genes em busca de indícios de uma "seleção positiva", ou seja, onde ocorreu a mutação em resposta a uma pressão ambiental para facilitar a sobrevivência da espécie. A diferença genética entre homem e chimpanzé é de apenas 1% e, ao contrário do esperado, o grupo de genes envolvido no desenvolvimento do cérebro não está entre os campeões de mutações. "Na verdade, os genes expressos no cérebro parecem estar entre os mais conservados", escrevem os pesquisadores.

"Nossa visão antropocêntrica sempre diz que somos diferentes (dos chimpanzés) porque temos cérebros modificados, como quanto à produção de algumas proteínas", comenta o geneticista Fabrício Santos, da Universidade Federal de Minas Gerais. Só que a nova pesquisa não encontra tais divergências. O grosso das mutações está no sistema de defesa do corpo, na supressão de tumores e na formação de gametas sexuais. A descoberta parece ser um reflexo da vida estendida do ser humano, que precisou criar estratégias para sobreviver por mais tempo. Em contrapartida, no genoma dos chimpanzés, as mutações mais evidentes são relacionadas à percepção sensorial, como o olfato.

Entre os 13 mil genes analisados, há 3.069 que sofreram mutações, porém sem que sua função seja reconhecida. Para o líder do projeto, Rasmus Nielsen, da Universidade de Copenhague (Dinamarca), tal incerteza não modifica o resultado do estudo. "Eles sugerem que há muito mais histórias biológicas interessantes para ser desvendadas", disse Nielsen ao Estado.

Souza concorda: "Possuímos total ignorância em relação ao desenvolvimento molecular do cérebro. Temos o genoma, que ajudou em muitos campos da ciência. Mas ainda há muitas perguntas a ser respondidas."