Título: Dia do Índio terá protesto e romaria ao Planalto
Autor: Mariângela Gallucci
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/04/2005, Nacional, p. A6

Lideranças indígenas pretendem aproveitar o Dia do Índio, que será comemorado amanhã, para fazer uma série de manifestações em Brasília. Eles querem pressionar o governo e o Poder Legislativo a melhorar o atendimento às comunidades indígenas nas áreas de educação e saúde e dar maior proteção às reservas contra invasões de madeireiros e garimpeiros. Ainda hoje, um grupo de caciques de diversas etnias estará no Congresso para apresentar suas reivindicações.

Amanhã, os índios irão ao Palácio do Planalto para reiterar as reivindicações ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas eles deverão também agradecer ao presidente a homologação da reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima, ocorrida na última sexta-feira. A homologação provocou protestos de plantadores de arroz da região, mas o coordenador regional da reserva, o macuxi Jacir José de Souza, disse ontem esperar que eles deixem o local pacificamente. "Acredito que não vai acontecer violência. Mas eles vão fazer barulho", afirmou.

Para prevenir a violência, a Polícia Federal deslocou para a área, no final de semana, dezenas de agentes de vários Estados. A Raposa do Sol tem 1,7 milhão de hectares e é habitada por cerca de 15 mil índios.

Souza lembrou que nas disputas por terras na região muitas pessoas morreram. "Foram 30 anos de batalhas para conseguir a homologação", disse. Ele afirmou, porém, que o quadro mudou graças ao envio de segurança para a área pelo governo federal.

"Não estamos mexendo com eles (os produtores de arroz)", garantiu o índio. Apesar de ressaltar que algumas áreas ficaram fora da demarcação, como sedes de município e estradas, Souza disse que a homologação resolve o problema. "Quero agradecer ao presidente pelo reconhecimento do sofrimento do povo indígena. Ele vai dar a oportunidade da gente produzir porque a terra é nossa vida, é de onde tiramos o sustento", afirmou.

Na pauta de reivindicações dos índios estão medidas para "garantir que eles continuarão vivos", disse o antropólogo Zeca Borges, que acompanha o grupo. Segundo ele, a Fundação Nacional do Índio (Funai) está "obsoleta". Os índios também vão pedir providências contra a exploração de madeira e as mudanças na legislação sobre mineração.

SAÚDE

Apesar da conquista da homologação da nova reserva, Jacir Souza disse que o governo precisa organizar melhor os serviços de saúde dos índios. Ele contou que em Raposa Serra do Sol crianças também morrem por desnutrição, como ocorreu recentemente em Dourados, no Mato Grosso do Sul.

Além dos macuxi, Lula receberá amanhã índios de outras etnias, como os caiapós. Principal líder da etnia que vive no Xingu, o cacique Raoni desenvolveu na região um método diferente de administração da saúde indígena que será apresentado ao presidente. Coordenado por seu sobrinho, Puiu, o sistema consiste na administração pelos índios dos recursos repassados pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa).

Puiu contou que com o dinheiro recebido foi construído um hospital na aldeia onde trabalham, entre outros profissionais, quatro enfermeiros, dois médicos e dois dentistas. Segundo ele, não há mortalidade infantil na área e a gripe e suas complicações, que são temidas por índios, foram resolvidas com a aplicação de vacinas. Uma das vantagens em deixar a administração com os índios, segundo Puiu, é poder contar com o apoio e o trabalho dos pajés. "As outras etnias têm de aproximar os pajés para que participem dos tratamentos de saúde", concluiu Puiu.