Título: Conclave começa sem definição
Autor: José Maria Mayrink
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/04/2005, Vida&, p. A10

Os 115 cardeais de 52 países que vão escolher o sucessor de João Paulo II iniciarão o conclave, às 16h30 de hoje (11h30 no horário do Brasil), na Capela Sistina, ainda sem definição de nomes. Nenhum candidato se lançou ou foi lançado durante as reuniões da congregação-geral que discutiram, na semana passada, os problemas que a Igreja enfrenta neste começo do século 21, conforme informações de participantes das reuniões. "Não tem fundamento essa série de especulações sobre eventuais concorrentes, pois em nenhum momento se tratou de nomes", disse o cardeal Geraldo Majella Agnelo, arcebispo-primaz de Salvador e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), respondendo a uma pergunta do Estado.

Segundo d. Geraldo, os cardeais acharam graça nas informações publicadas desde a morte de João Paulo II, porque elas não retratavam o que de fato se falava nas reuniões ou congregações-gerais. Lembrado de que seu nome estava entre os favoritos, tendo aparecido em 15.º lugar na Bolsa de Apostas de Londres, o arcebispo de Salvador desconversou - ontem foi citado pelo jornal italiano Corriere della Sera.

"Entrei nessa lista como um azarão (das corridas de cavalos), porque não tenho nenhuma pretensão de ser papa. Meu caminhãozinho é pequeno demais para carregar tamanho peso", comentou o cardeal, repetindo com variações uma imagem que usou nas últimas semanas para descartar uma suposta candidatura.

O cardeal Serafim Fernandes Araújo, arcebispo emérito de Belo Horizonte, que não participará do conclave por ter completado a idade-limite de 80 anos, confirma as informações do primaz. "Testemunhei todas as reuniões e em nenhum momento ouvi menções a nomes", disse o cardeal mineiro.

Durante as reuniões, cada cardeal podia falar 10 minutos sobre questões relevantes para a Igreja, sem necessidade de se inscrever. O crescimento do islamismo, a evangelização da Ásia e a secularização da Europa foram alguns dos temas tratados, entre os desafios que esperam pelo novo papa.

Como octogenários, d. Serafim e o ex-arcebispo do Rio, d. Eugenio de Araújo Salles, que também se encontra em Roma, vão assistir à solene missa Pro eligendo papa (pela eleição do papa), às 10 horas, na Basílica de São Pedro, mas não na condição de co-celebrantes, que serão apenas os cardeais eleitores. O oficiante principal será o decano do colégio cardinalício, Joseph Ratzinger.

Encerrada a cerimônia, os 115 cardeais com direito a voto voltarão em procissão para a Casa de Santa Marta, onde estão hospedados desde ontem à tarde, sem mais contato com o mundo exterior. O primeiro escrutínio deve ser hoje, conforme a constituição apostólica Universi Dominici Gregis, de João Paulo II, que estabelece as regras do conclave.

Na opinião de vaticanistas - estudiosos e jornalistas da Sala de Imprensa do Vaticano - o conclave deve durar de três a quatro dias, seguindo a tradição dos últimos cem anos. D. Geraldo concorda que esse seria um prazo razoável, mas não descarta a possibilidade de uma surpresa. O cardeal da Bahia marcou sua passagem de volta para o dia 30.

"É bem provável que tenhamos o novo papa na quarta-feira", disse d. Amaury Castanho, bispo emérito de Jundiaí (SP), que viajou a Roma "para não perder esse momento histórico da sucessão de João Paulo II". O bispo chegou a essa conclusão depois de conversar com cardeais que, como ele, estão hospedados na Casa Maria Bambina, um convento religioso localizado ao lado do Vaticano - entre eles o cardeal Dionigi Tettamanzi, de Milão, um dos mais citados entre os 'papabili'.

D. Cláudio Hummes, outro nome cotado, recusa-se a falar sobre o conclave. "Estou quase recuperado da gripe que me derrubou na semana passada", limitou-se a dizer ontem no almoço no Colégio Pio Brasileiro. À mesa do cardeal de São Paulo sentaram-se o cardeal-arcebispo do Rio, d. Eusébio Scheid, e três convidados: d. Serafim, d. Amaury e o arcebispo de Botucatu (SP), d. Aloísio Penna. Comeram macarrão, carne de panela e salada, acompanhados de vinho tinto Corvo, safra 2003, produzido na Sicília.

Enquanto os padres-estudantes e alguns hóspedes, como a freira Célia Cadorin - postuladora da causa de Madre Paulina, canonizada em 2002, e de Frei Galvão, que, pela sua previsão, pode ser declarado santo em 2006 -, percorriam o bufê, o reitor do Pio Brasileiro, padre Geraldo Coelho de Almeida, servia os cardeais.