Título: Iedi alerta para risco de recessão
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/05/2005, Economia e Negócios, p. B1

No dia em que o dólar caiu abaixo de R$ 2,50, documento de empresários denuncia erros da política econômica

A economia brasileira está na ante-sala da retração, por causa de uma série de equívocos que estão sendo cometidos pela equipe econômica, principalmente no câmbio. Ontem, coincidentemente, o dólar fechou em R$ 2,493, cotação mais baixa em três anos. A crítica, a mais contundente feita até agora por uma entidade empresarial, partiu do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), em documento obtido com exclusividade pelo Estado (ver íntegra na página 3). "Já está ocorrendo uma estagnação e, se nada for feito, entraremos num processo recessivo sério a médio prazo. Não sei dizer se será no mês que vêm ou no próximo ano, mas posso assegurar que este é o caminho já traçado", afirma Ivoncy Ioschpe, presidente do Iedi. Ele cita que a indústria não cresce já há seis meses, o emprego também parou de aumentar e as empresas engavetaram planos de investimento.

Para evitar a retração, a entidade sugere uma mudança radical na política econômica que contemple três pontos principais: forte redução do custo do Estado, expressiva diminuição da taxa básica de juros e o retorno das intervenções do governo no mercado de câmbio.

De acordo com Ioschpe, essa nova orientação econômica permitiria que o País tivesse uma política fiscal ativa, criando espaço para a redução dos juros e do câmbio. "Hoje, a política fiscal está integralmente comprometida, boa parte dela com o pagamento dos próprios juros."

Com a redução dos juros, cairia também o endividamento, e o governo poderia investir mais em infra-estrutura, criando condições para que o País possa crescer. Além disso, a partir da queda dos juros, cessariam também as pressões para valorização do cambio, já que entrariam bem menos recursos especulativos no mercado. Nessas circunstâncias, o câmbio caminharia em direção a uma taxa realista, ao contrário do que ocorre atualmente.

O presidente do Iedi criticou também o regime de metas de inflação, alegando ser preciso ter uma visão mais de longo prazo. "Se o governo resolve que no próximo ano a meta é chegar a 4,5%, o que é extremamente ambicioso, os juros ficarão insuportáveis, porque o Banco Central (BC) não tem outro instrumento para controlar a inflação."

Para Ioschpe, política econômica é algo que se deveria fazer de uma maneira pragmática e não voluntariosa. "Ao elevar a taxa de juros continuamente para perseguir a meta que foi imposta, o BC pensa apenas em achatar a inflação, sem se preocupar se isso vai criar recessão ou que as empresas terão de fechar 15% ou 20% dos empregos no País."

O pragmático, segundo ele, seria perseguir uma inflação realista para as necessidades do País. "Não podemos imaginar que somos uma Suíça e podemos ter inflação zero ou de 2%. Temos de fazer uma inflação que nos permita crescer continuamente."