Título: D. Paulo: Vaticano está olhando para o Oriente
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/04/2005, Vida&, p. A12

"O Vaticano tende a olhar para o Oriente. A eleição do novo papa de alguma forma vai refletir essa preocupação", disse ao Estado dom Paulo Evaristo Arns, cardeal e arcebispo emérito de São Paulo. Este é um dos raros palpites que o líder da Igreja Católica no Brasil - hoje com 83 anos e já aposentado - arrisca fazer antes do início do conclave que vai eleger o sucessor de João Paulo II. À pergunta "dom Cláudio Hummes, arcebispo de São Paulo, tem chance de ser escolhido?", dom Paulo reserva uma resposta cuidadosa, que não deixa de ser um palpite: "Em escolha de papa, previsões levam a equívocos. Mas não creio que dom Cláudio tenha chance. Não por ele, mas porque infelizmente a América Latina deve ter menor peso no processo." O senhor gostaria de acompanhar de perto essa votação?

Estou me recuperando de um enfarte sofrido há um mês e meu médico já disse: ir a Roma, de jeito nenhum. Nem para conversar. Estou aposentado, não voto no colégio dos cardeais, portanto, se me comportar direito, terei autorização para ordenar o bispo de Blumenau, dentro de alguns dias. Isso vai me deixar muito satisfeito.

Mesmo a distância, dá para divisar as regiões de maior peso no conclave?

Sim. A Europa é, sem dúvida, a região mais forte e com o maior número de representantes. A América do Norte também terá peso, assim como a Ásia. Infelizmente a América Latina não tem tido tanta voz.

Dizem que dom Cláudio tem boas chances .

Em eleição papal, previsões nada significam. Não acredito que dom Cláudio possa ser o escolhido porque o Vaticano está olhando para outro canto do mundo. Buscar um caminho para o Oriente e expandir a Igreja nos países asiáticos: é isso o que conta nesse momento.

O próximo papa poderá vir dessa região?

Poderá ser um europeu com os olhos voltados para o Oriente. Mas repito que previsões não têm importância alguma agora.

O governo Bush, com fortes vínculos com a Igreja Católica, fortalece a representação americana no conclave?

Não acredito. Os cardeais americanos sabem muito bem como Bush dividiu o país e não vêem isso com bons olhos. Bush terá pouca ressônância no conclave.

O senhor participou dos conclaves que escolheram João Paulo I e João Paulo II. Como é que o processo de escolha funciona?

Eu não devo contar detalhes. A não ser que os cardeais vão ser divididos em grupos de acordo com a língua que dominam. Há grupos que discutirão teses em francês, outros em espanhol, em italiano, inglês, alemão... Desses grupos é que começam a surgir os favoritos que, por fim, vão à votação.

O regime é mesmo de isolamento dos cardeais?

Nem tanto. Eles lêem jornais e se informam.

Qual é o perfil do papa ideal para o senhor?

Alguém comprometido com a paz. Um homem decidido a promover a união dos povos e das religiões. Cristo trouxe a paz. Que o futuro papa siga o exemplo.