Título: Previsão é de estabilidade do juro
Autor: Tom Morooka
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/04/2005, Economia, p. B4

A semana está carregada de eventos que vão influenciar os mercados. Um deles é a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que decide o rumo da taxa básica de juros básicos na quarta-feira, mas os investidores continuarão atentos também ao cenário externo, como nos últimos dias. A avaliação da maioria dos analistas é que a temporada de ajuste nos juros terminou. Dentre os 52 consultados pela Agência Estado, 36 prevêm estabilidade em 19,25%; 11 uma elevação de 0,25 ponto porcentual e 5 alta de 0,50 ponto. Segundo o vice-presidente executivo de Tesouraria do Banco WesLB do Brasil, Flávio Farah, que acredita na manutenção em 19,25% ao ano, o Copom levará em conta indicadores de última hora que serão divulgados neste início de semana. No exterior, o foco está na possível continuidade do sentimento de aversão ao risco, agravado, semana passada, com a desconfiança em relação à situação financeira da General Motors.

Um fator que poderia acentuar a aversão ao risco é o CPI (sigla em inglês do índice de preços ao consumidor), que será divulgado quarta-feira de manhã "O pior cenário seria o que combina dúvidas sobre o desaquecimento da economia dos EUA com inflação." Farah comenta que o PPI (índice de preços ao produtor), que será conhecido amanhã, é apenas um aperitivo, já que a política monetária americana é mais influenciada pela inflação ao consumidor (CPI).

O temor é que eventual inflação em alta leve o Federal Reserve (Fed, banco central americano) a subir mais agressivamente os juros em um cenário de desaceleração do crescimento econômico global, principalmente nos EUA, cuja desconfiança provocou forte estresse nos mercados de ações e de títulos. A Bolsa paulista recuou 5,52% e o dólar avançou 2,20% nos dois últimos dias da semana.

O Copom levará em conta ainda a última rodada de inflação corrente e a projetada por bancos e consultorias na Pesquisa Focus que será divulgada hoje. Amanhã, será conhecida a inflação de abril pelo IGP-10; na quarta-feira, a segunda prévia do mês pelo IGP-M e também pelo IPC-Fipe.

Farah pondera que o Copom tem pela frente a reunião de prognóstico mais arriscado deste ano, porque a decisão sobre o juro será tomada em quadro de inflação corrente em alta e desaceleração da economia, como apontam os dados mais recentes da produção industrial e de vendas no varejo. "Tudo indicava que o critério de desempate, em favor do juro estável, viria do cenário externo, pelo tom positivo da ata do Fed em março e queda dos preços das commodities." O aumento da aversão ao risco mudou essa análise e o fator determinante, agora, seria a expectativa de inflação para os próximos 12 meses e 2006, diz.

No day-after do Copom, feriado de Tiradentes no Brasil, o presidente do Fed, Alan Greenspan, falará no Senado americano sobre Déficit Estrutural e o Processo de Reforma do Orçamento. O tema tem ligação direta com o déficit fiscal dos EUA, uma das grandes preocupações dos investidores. "O mercado estará fechado nesse dia, mas é possível que amanheça sexta-feira reagindo à fala de Greesnpan", avalia Farah.