Título: Ministro vai cobrar de Severino acordo sobre referendo de armas
Autor: Renata Gama
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/04/2005, Metrópole, p. C6

O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, vai cobrar hoje do presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti, uma justificativa para a prorrogação do prazo dado à Comissão de Segurança Pública para votar o projeto do referendo sobre a proibição de venda de armas. "Estamos correndo contra o tempo." O ministro e Severino tinham feito um acordo com deputados pró-desarmamento para que o texto seguisse direto para a Comissão de Constituição e Justiça - última etapa antes da votação em plenário - caso não fosse analisado até quinta-feira na de Segurança. Mas Severino surpreendeu o governo ao dar mais uma semana de prazo para a Comissão de Segurança, onde o projeto ficou dez meses parado. Se o texto não for votado pelo plenário até 1.º de maio, há risco de o referendo não ocorrer este ano.

Mesmo assim, Thomaz Bastos foi cauteloso ao tratar do assunto durante ato ecumênico pelo desarmamento realizado ontem na Praça da Sé - o evento só atraiu cerca de 300 pessoas, apesar de contar com um show do qual participou o ministro da Cultura, Gilberto Gil. "Não posso dizer que ele tenha descumprido o acordo."

Thomaz Bastos admitiu estar preocupado com o referendo, mas afirmou que ainda há tempo para que a consulta popular ocorra."O presidente Carlos Velloso (do Tribunal Superior Eleitoral) está se antecipando, queimando etapas. Precisamos ganhar esse referendo."

O ministro rebateu críticas ao programa de desarmamento. "Dizem que queremos desarmar pessoas de bem e não bandidos. Quem desarma bandidos é a polícia. Temos de desarmar o marido que mata a mulher numa briga, o sujeito que leva fechada no trânsito. São pessoas de bem, mas que com uma arma na mão podem matar."

Convidado para o ato, o prefeito José Serra mandou o secretário do Verde, Eduardo Jorge, em seu lugar. O secretário justificou a ausência de Serra dizendo que ele participaria de uma homenagem ao governador Mário Covas na zona leste. Mas Serra também não foi à homenagem.

'PARÁBOLA'

Depois de cantar a música A Paz na Catedral da Sé, Gil subiu no palanque montado na praça. Quando chegou sua vez de falar, ficou em silêncio e deu voz às pessoas que gritavam palavras de ordem contra ele. O ministro esperou a situação acalmar e pediu a palavra.

Em vez de discursar, Gil preferiu contar um caso pessoal. Disse que, anteontem, foi mal-interpretado ao recusar convite de um filho para jantar, mas o caso foi resolvido com diálogo e não com violência. No fim, os dois acabaram saindo e se divertiram. Após a "parábola", o ministro cantou com Netinho, Chico César e Dominguinhos.