Título: Fed sobe juro americano pela 8.ª vez seguida
Autor: Fábio Alves
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/05/2005, Economia, p. B9

Mais uma vez, o BC americano aponta pressão inflacionária, além de desaceleração da economia

O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) elevou ontem, pela oitava vez consecutiva, o juro básico americano, novamente em 0,25 ponto porcentual, para 3% ao ano. A decisão, amplamente esperada pelo mercado, foi unânime. Na ata da reunião, o Fed reconheceu que as pressões inflacionárias aumentaram e que a economia americana sofre uma leve desaceleração. Para a maioria dos analistas, o BC deverá manter a linha moderada de altas do juro, podendo fechar o ano em 4%.

Paulo Leme, diretor de Estratégia para Mercados Emergentes do Banco Goldman Sachs, disse que a decisão veio dentro do que se esperava e, portanto, terá um efeito neutro para os países emergentes. "O cenário para esses países deve continuar benigno", afirmou. "O reconhecimento da desaceleração econômica, combinado com a avaliação, pelo Fed, de que o saldo de riscos é neutro, não somente descarta o temor de uma aceleração no aperto monetário, com uma alta de 0,50 ponto porcentual, como abre a possibilidade de o Federal Reserve não aumentar o juro numa das suas reuniões deste ano".

Na opinião de John Peta, gestor de fundos para mercados emergentes da Standish Mellon Asset Management, o efeito da decisão será neutro sobre os mercados emergentes.

"Com a perspectiva de um aperto monetário comedido, o cenário para os emergentes pelo menos não deve piorar", afirmou. "Apesar de o Fed ter reconhecido uma desaceleração, não há indicação de que os Estados Unidos estejam perto de uma combinação de fraco crescimento e inflação elevada. Estamos vendo, sim, uma expansão menos acelerada e um pouco mais de inflação, mas nada como a estagflação dos anos 70".

Para Richard Yamarone, economista-chefe da consultoria Argus Research, o reconhecimento da desaceleração aumenta a chance de o Fed dar uma pausa numa das próximas reuniões, deixando o juro básico fechar em 3,75% ao ano. "O destaque da ata foi a admissão desse ritmo mais lento, por causa da alta do petróleo. Fora isso, não houve surpresas. E se fosse para aumentar o aperto, eles teriam deixado a expressão 'comedido' de fora da declaração", acrescentou.

PREÇOS

Jason Bonanca, analista do Crédit Suisse First Boston em Nova York, discordou de Yamarone, tendo observado: "Para mim, a ata demonstra que o Fed não pretende suspender a alta do juro básico. No parágrafo inicial da ata, eles admitem que há uma certa desaceleração, mas ao falarem da inflação, os diretores do Federal Reserve mantêm o mesmo discurso anterior, muito direto. E eliminaram a frase que dizia que os preços da energia não haviam chegado aos preços básicos para o consumidor. Isso mostra que eles ainda estão muito preocupados com as pressões de preços. Os diretores acham que não estão causando um dano irreparável ao manterem uma trajetória de aperto".

Curiosamente, o Fed fez um adendo à ata, horas após a sua divulgação, acrescentando uma frase tranquilizadora, segundo a qual as expectativas de inflação no longo prazo estão bem contidas. Isso acalmou os mercados (ver página 11).

O fato é que o mercado acionário esperava uma ata mais positiva por parte da instituição presidida por Alan Greenspan, e acabou oscilando. Hugh Johnson, responsável pelo setor de investimentos na Johnson Illington Advisors, disse que "no momento, o mercado se estabilizou, mas até sabermos quanto a economia irá se desacelerar, quanto os lucros cairão, não adianta fazer muitas previsões. Está claro que a economia está se desacelerando, mas os investidores querem saber quanto e por quanto tempo". O Índice Dow Jones teve ligeira alta de 0,05% e a Nasdaq subiu 0,23% .