Título: Um reencontro com os velhos companheiros
Autor: Elizabeth Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/04/2005, Nacional, p. A4

Trinta anos depois de assumir, pela primeira vez, o comando do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou ontem à noite ao local onde conquistou notoriedade como líder sindical, para ser homenageado ao lado de "velhos companheiros": um grupo de 15 sindicalistas que integravam a diretoria da entidade em 1975. Durante 45 minutos, Lula fez um discurso no qual ressaltou os avanços do governo, pediu paciência política e garantiu que não vai estabelecer seu comportamento com base na eleição presidencial do ano que vem. Falando para uma platéia de 500 pessoas que lotaram o auditório do sindicato, Lula afirmou que o País, ao citar dados como a geração de emprego, vive um momento auspicioso, mas que tem de ser consolidado. "Por isso, não podemos achar que está tudo bem e vamos fazer a farra do boi", afirmou. "Tem eleição no ano que vem e nós não podemos permitir que a eleição determine o nosso comportamento. Temos que fazer o que tem de ser feito com consciência e maturidade", acrescentou.

Ao avaliar as dificuldades que enfrenta para administrar o Brasil, Lula afirmou que é mais difícil ser presidente da República do que presidente do sindicato porque, segundo sua análise, enquanto no sindicato o dirigente enfrenta um ou dois tipos de interesse, na presidência chega a um milhão.

"São interesses díspares. E você tem de trabalhar com os interesses de todos. Às vezes uns querem que o dólar baixe, outros que aumente ou fique como está. Tem um jogo de interesses que se você não tiver jogo de cintura e paciência você não governa", disse, acrescentando que nenhuma decisão pode ser tomada sob pressão. "Não há nada que não possa esperar a cabeça refrescar. Se você toma uma decisão precipitada, você pode cometer erros que às vezes demoram para ser reparados."

Descontraído, o presidente, que estava acompanhado da primeira-dama, Marisa Letícia, disse que aprendeu no sindicato a arte da negociação e do possível. Bem-humorado, chegou até a cantar a música Rosa, de Pixinguinha. "Tu és divina e graciosa", arriscou, desistindo em seguida com o argumento de que não sabia outros trechos.

Na cerimônia, a trajetória de Lula foi repassada em telões. Acostumado a se entregar às lágrimas, desta vez não chorou. "Estou feliz aqui", justificou, contente por rever os amigos.