Título: Futuro vai depender de Fonteles
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/04/2005, Nacional, p. A5

Está nas mãos do procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, a sorte do ministro da Previdência Social, Romero Jucá (PMDB). O Palácio do Planalto quer que a Procuradoria se manifeste sobre a defesa do ministro em relação às denúncias de corrupção, entregue ontem a Fonteles, para definir se Jucá permanecerá no cargo. Para um importante colaborador do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu chefe conta com a imagem pública de "seriedade e independência" de Fonteles para pôr um ponto final no caso. A aposta no parecer e no perfil do procurador-geral tem razões que só a instabilidade política do governo no Congresso pode explicar.

O colaborador palaciano admite que o governo não tem condições de abrir um confronto com a cúpula governista do PMDB, que indicou o senador para a Previdência, sob pena de perder a maioria no Senado.

Por isso mesmo, conta com a palavra de Fonteles em qualquer cenário: seja para sustentar a permanência de Jucá diante da opinião pública, caso o procurador o inocente, ou para livrar-se do "ministro-problema" sem criar uma crise política, na hipótese de o parecer incriminar o senador.

A cautela do governo deve-se à hegemonia do PMDB do presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), que tem 23 dos 81 votos dos senadores. Sem o apoio do aliado, o próprio governo reconhece que não teria condições de aprovar nenhum projeto no Congresso. Segundo um assessor de Lula, são esses números da política que levaram o presidente a declarar ontem, em São Paulo, que não demitirá seu ministro por conta de insinuações ou manchetes de jornal.

Foi o suficiente para que o PSDB voltasse sua artilharia para o presidente. "Um presidente tem a obrigação de ter todos os elementos para formular uma opinião sólida e definitiva sobre todos os seus colaboradores", cobrou o líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP). "Será que ele não sabe nada além dos jornais? Lula não devia esperar a palavra de ninguém. Ele tem de ter os elementos para dizer se seu ministro é limpo ou não."

Apesar de o Planalto e o PMDB se manterem firmes na defesa de Jucá, ambos angustiaram-se com a demora do ministro em apresentar defesa. Renan e o senador José Sarney (PMDB-AP) chegaram a aconselhar Jucá a responder de "bate-pronto" a cada acusação, "nova ou requentada".