Título: Japão propõe à China reunião de cúpula para superar crise
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Fonte: O Estado de São Paulo, 19/04/2005, Internacional, p. A10

Japão e China podem marcar um encontro entre seus líderes neste fim de semana para tentar encerrar sua pior crise em três décadas, ao mesmo tempo em que trocavam críticas por causa dos protestos antinipônicos e o passado militarista japonês. A China revelou ontem que o Japão propôs ontem um encontro entre seu primeiro-ministro, Junichiro Koizumi, e o presidente chinês, Hu Jintao, durante uma conferência de líderes africanos e asiáticos na Indonésia. 'Ainda estamos considerando a proposta', disse o vice-chanceler chinês, Wu Dawei.

Sugerindo que muito trabalho ainda deverá ser feito antes de um encontro, Koizumi advertiu ontem em Tóquio que, 'se for para ter uma troca de palavras duras, melhor não ter o encontro'. O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, pediu ontem aos dois líderes que se reúnam durante a conferência na Indonésia, aproveitando a ocasião para resolver suas diferenças.

Funcionários dos dois países se reuniram ontem em Pequim, mas apesar das tentativas de reconciliação a China acusou o Japão novamente pela crise diplomática, dizendo que o país fracassou em enfrentar seu passado militarista.

O Japão, por sua vez, acusou a China de não manifestar nenhum remorso pelos violentos protestos antinipônicos realizados neste fim de semana e no anterior em várias cidades chinesas.

Também criticou a China por seu fracasso em explicar a escalada de manifestações, que geralmente são coibidas. 'Não somos nós que devemos nos desculpar', disse ontem o vice-chanceler chinês, Wu Dawei.

'É o Japão quem deve pedir desculpas.'

Pequim diz que Tóquio fracassou em enfrentar seu passado militarista

Milhares de chineses participaram de manifestações contra um polêmico livro de história japonês que omite as atrocidades cometidas durante a 2.ª Guerra e contra a intenção do Japão de obter uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU.

Os temores sobre os possíveis impactos que a crise possa ter nas duas maiores economias da Ásia, ligadas por bilhões de dólares em comércio e investimentos (ver quadro), levaram a Bolsa de Tóquio a cair 3,8% ontem - a maior queda em mais de 11 meses.

O consulado japonês em Xangai reabriu ontem após os violentos protestos, que deixaram as janelas do prédio destruídas, além das vidraças de várias lojas e restaurantes de japoneses.

Agências de turismo disseram que os turistas japoneses estão cancelando as viagens à cidade e restaurantes de comida japonesa queixam-se que o movimento caiu muito. Mas, por enquanto, as grandes companhias japonesas declararam não estar vendo um impacto de longo prazo em seus negócios.

Os líderes asiáticos condenaram ontem os violentos protestos contra o Japão realizados na China, mas alguns se uniram a Pequim, pedindo a Tóquio que admita as atrocidades cometidas antes e durante a 2.ª Guerra. 'Como indonésios, sentimos que todos os países, incluindo o Japão, têm de enfrentar os fatos da história', disse o porta-voz da Chancelaria da Indonésia, Marty Natalegawa.

A Coréia do Sul, que mantém a própria disputa com o Japão por causa de pequenas ilhas, também indicou estar ao lado da China.