Título: Base política do governo é precária
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Fonte: O Estado de São Paulo, 19/04/2005, Internacional, p. A10

A crise no governo equatoriano desencadeada pelas demissões de juízes da Suprema Corte, em dezembro - que foram substituídos por aliados do presidente Lucio Gutiérrez -, parece não ter solução à vista. Gutiérrez, cuja política econômica austera e estilo de governo autoritário já vinham contrariando muitos equatorianos, fica agora com uma sustentação política bastante precária. Ele afirma que não estava intimidando o Judiciário. Mas agora enfrenta opositores determinados - de donas de casa de classe média a grupos de estudantes de esquerda e organizações indígenas - e irritados com o que consideram um governo corrupto, mais interessado em consolidar-se no poder do que em melhorar suas vidas.

Os problemas do presidente não são novos neste país cronicamente instável, onde presidentes foram depostos em 1997 e, de novo, em 2000, desta última vez com a ajuda de Gutiérrez, então coronel do Exército. A Transparência Internacional, que fiscaliza a corrupção em governos por todo o mundo, situa o país e seus partidos entre os mais corruptos da América Latina.

Em dezembro, os aliados do presidente no Congresso demitiram 27 dos 31 juízes da Suprema Corte que anteriormente apoiara um esforço frustrado de destituir Gutiérrez com base em acusações de corrupção. Os parlamentares nomearam então uma nova Corte que, para os críticos, estava apinhada de aliados do governo.

Os juízes depostos em dezembro foram demitidos com o apoio do Partido Roldosista, cujo líder, o ex-presidente Abdala Bucaram, retornou ao Equador do exílio neste mês depois que o presidente da nova Suprema Corte, Guillermo Castro, retirou as acusações de corrupção que pesavam sobre ele.