Título: 455 páginas de dicas para os médicos
Autor: Adriana Dias Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/04/2005, Vida &, p. A16

Imagine se os médicos dessem sempre uma olhadinha numa cartilha antes de comunicar o diagnóstico ao paciente. Talvez não tenha sido esse o objetivo principal da nova edição do Projeto Diretrizes - livro com 455 páginas recheado de orientações de diagnóstico e tratamento sobre as mais variadas doenças e situações clínicas que será lançado dia 28. Mas, sem dúvida, ela servirá de referência para muitos médicos brasileiros. "Depois que saem da faculdade, alguns profissionais não conseguem mais se atualizar por falta de dinheiro, tempo ou oportunidade", diz Aldemir Humberto Soares, da Associação Médica Brasileira (AMB), instituição responsável pela idéia e execução do projeto, em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM). "Mas sabemos que existe a possibilidade de alguns médicos precisarem das orientações até para aprender, infelizmente." A idéia surgiu em 2000. Em 2002, foram lançadas duas edições, com as primeiras 80 diretrizes. Agora serão mais 40. "Com 120, vai ficar mais fácil convencer o Ministério da Saúde a adotar o projeto no SUS", diz Soares. Representantes do ministério já confirmaram presença no lançamento oficial, durante o fórum Diretrizes Clínicas e o Sistema de Saúde no Brasil, em Brasília.

Ainda é cedo para dizer o que exatamente sairá de lá. Mas os médicos estão confiantes com a qualidade do projeto. "Cada diretriz tem pelo menos 40 referências de estudos científicos", diz Moacyr Roberto Cuce Nobre, da AMB. Os médicos se orgulham também em afirmar que o projeto não tem patrocínio. "Ao contrário do que ocorre em congressos organizados por laboratórios farmacêuticos para discutir sobre consensos na medicina, não temos vínculos com ninguém", diz Wanderley Marques Bernardo, da AMB.

As diretrizes vão de orientações sobre andropausa, catarata até o uso de cinto de segurança na gravidez (veja quadro ao lado). Cada uma é criada pela sociedade médica correspondente. Das 53 existentes no País, 80% aderiram ao projeto. Os médicos não são obrigados a seguir as orientações. "São consensos que servem para que o médico e o próprio paciente se atualize", diz Bernardo. "Tem médico que acredita em colírio para curar catarata, por exemplo, ou aquele que não se preocupa em dizer para a paciente grávida como ela tem de usar o cinto de segurança."

Grávida de gêmeos há sete meses, a decoradora de eventos Karina Bellin, de 37 anos, por exemplo, nunca falou sobre o assunto com o obstetra. "Ele nunca me deu orientação, mas mas eu também jamais perguntei", conta. "Gosto de acomodar a parte de cima do cinto entre os seios. A parte horizontal, bem em cima do umbigo para ficar bem esticado e não me machucar." De acordo com a diretriz, a parte subabdominal deve ficar abaixo dos ossos da bacia. "Se houver um tranco, o impacto não atinge o feto", diz Alberto Sabbag, da Associação Brasileira da Medicina de Tráfego.

As novas diretrizes já estão disponíveis no site www.amb.org.br. O acesso é aberto e gratuito.