Título: Mercado espera fim da alta dos juros
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Fonte: O Estado de São Paulo, 19/04/2005, Economia, p. B1

Reunião do Copom que começa hoje pode encerrar ciclo iniciado em setembro, que aumentou a Selic de 16% para 19,25% ao ano

Renée Pereira, Jaqueline Farid, Andréia Lago. A maioria dos analistas do mercado financeiro aposta no fim do ciclo de alta da Selic na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que começa hoje e termina amanhã. Depois de sete elevações consecutivas, de 16% para 19,25% ao ano, o mercado acredita que há condições para a manutenção dos juros no nível atual. Pelo menos, essa é a avaliação dos cinco maiores bancos do País - Bradesco, Itaú, Unibanco, Santander e ABN Amro. Para eles, os aumentos na taxa básica de juros já surtiram efeito na economia. Exemplo disso são os últimos dados da indústria e comércio, mostrando desaceleração no ritmo de crescimento, afirma o economista do ABN Amro, Hugo Penteado. Segundo ele, as pressões sobre a inflação nos últimos meses têm vindo de áreas como transportes e energia, sobre a qual a alta dos juros não surte efeito.

O ex-diretor de política monetária do Banco Central (BC), Carlos Thadeu de Freitas, diz ainda que, embora haja um "ruído de expectativa" de alta da Selic no mercado financeiro, por causa dos efeitos do choque de oferta na inflação, o BC já deixou claro na última ata do Copom que está olhando para a inflação em 12 meses.

Desse modo, ainda que a meta de IPCA de 5,1% para 2005 "seja impossível" de ser alcançada, o nível de inflação nos próximos 12 meses "é razoável, em torno de 6%", e permite a manutenção dos juros. Para o economista, uma nova elevação "já não adiantaria nada para a inflação deste ano e jogaria a atividade econômica ainda mais para baixo".

Em relatório sobre a reunião do Copom, os economistas do Bradesco apostam na manutenção da taxa no índice atual. "Fundamentalmente porque julgamos que o nível atual será suficiente para trazer a inflação para perto de 6% neste ano e garantir que a tendência de queda se perpetue ao longo de 2006."

Eles acrescentam que "parece que chegou o momento de o Copom parar para avaliar os efeitos do ajuste da política monetária sobre a atividade e a inflação".

O economista da Gap Asset Management, Alexandre Maia, destaca ainda que a apreciação do câmbio, com dólar em R$ 2,607, também contribuiu para o recuo da inflação. "Quando o Copom começou a elevar a taxa de juros, a economia estava crescendo acima do seu potencial, o que pressionou os índices de preços. Mas hoje estamos vendo uma desaceleração."

Apesar da aposta majoritária de manutenção da Selic, ainda há aqueles que esperam mais conservadorismo do BC e nova alta de 0,5 ou 0,25 ponto porcentual na taxa básica. Como a cautela tem sido a principal característica da atual equipe econômica, não seria surpreendente se houvesse nova elevação, mesmo que de menor intensidade, afirmam analistas.

Para o economista e professor de MBA da Fipe-USP Marcelo Allain, a expectativa é que o Copom aumente em 0,25 ponto porcentual a taxa. A previsão tem base nas pressões de custo sobre a inflação, como commodities e petróleo. "A demanda não é mais a preocupação. Agora o problema está nas pressões de custo."

Outro que aposta em aumento é o economista da Sul América Investimentos Newton Rosa. A expectativa é de aumento de 0,5 ponto porcentual. De 54 analistas consultados pelo Estado, 38 esperam estabilidade, 11 prevêem alta de 0,25 ponto porcentual e 5 uma elevação de 0,50 ponto.