Título: Comércio faz bem
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Fonte: O Estado de São Paulo, 21/04/2005, Notas & Informações, p. A3

O Ministério da Saúde avisa: comércio internacional pode fazer bem à saúde, ao conforto e ao bolso do consumidor brasileiro. Esse comunicado pode ser imaginário, mas os dados que serviriam para fundamentá-lo são concretos e animadores. Para se manter como um grande exportador de carnes, o Brasil precisa garantir elevados padrões sanitários tanto na criação de animais quanto na operação dos frigoríficos. Ontem, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, visitou seu colega americano, Mike Johanns, para discutir, entre outros temas, o relatório e as críticas da missão veterinária que na semana passada visitou frigoríficos brasileiros. Durante a visita dos americanos, o ministério desabilitou cinco frigoríficos exportadores de carne cozida e a missão, outros três. Sem a vigilância imposta pelo comércio internacional, o público brasileiro talvez nunca soubesse desses problemas sanitários e de outros que vêm sendo eliminados graças à ação do governo e de empresários envolvidos na exportação.

A participação crescente no comércio internacional impõe aos produtores brasileiros, em todos os setores, padrões de eficiência e de qualidade que nunca foram prioritários quando a economia era fechada e protegida por barreiras de todos os tipos. Com a abertura econômica dos últimos 15 anos, a mudança tornou-se obrigatória para produtores tanto da indústria quanto da agropecuária.

O consumidor brasileiro foi obviamente beneficiado. Pôde escolher entre produtos muito mais variados e oferecidos a preços mais baixos e com padrões mais altos de qualidade. Pela primeira vez a indústria automobilística passou a oferecer, em vez das tradicionais carroças mecanizadas, modelos de classe mundial ou, pelo menos, muito mais parecidos com os modelos mais modernos. E isso foi possível mesmo com a manutenção de tarifas protetoras ainda muito elevadas.

A oferta da maior parte dos produtos foi adaptada às novas condições, embora a abertura comercial ainda seja menos ampla do que poderia ser. E a abertura certamente vai se ampliar. A inserção do País nos mercados globais continuará forçando mudanças na oferta de bens de todos os tipos.

A rapidez da evolução torna difícil avaliar o caminho percorrido. Há alguns anos, só com muita imaginação seria possível conceber a manchete publicada na última terça-feira pela Gazeta Mercantil: "Exportar mais celular exigirá tecnologia de terceira geração."

Esse título exprime, em poucas palavras, três enormes transformações ocorridas em pouco mais de uma década: 1) a produção em larga escala, no Brasil, de telefones celulares; 2) a exportação de produtos eletrônicos modernos produzidos no País; 3) a percepção de que o País tem de se atualizar tecnologicamente, de forma contínua, para não perder espaço no mercado internacional.

Já não se trata mais de percorrer, como na velha fase da substituição de importações, o caminho já vencido pelas economias mais avançadas. Já não se pensa em reinventar a roda, mas em adaptar a produção brasileira ao que há de mais moderno. A não ser por um surto de insanidade, não se repetirão os erros cometidos, por exemplo, na etapa de reserva de mercado para o setor de informática.

Alguns países que há 30 anos eram subdesenvolvidos e pobres decidiram tomar diretamente o caminho da modernização e da inserção nos mercados internacionais. Conseguiram mudanças notáveis e hoje competem nos mercados mais dinâmicos. O Brasil, com uma estrutura produtiva mais diversificada e uma economia maior, poderia ter tido um desempenho semelhante, mas ficou derrapando por muitos anos e perdendo oportunidades, porque se manteve isolado.

A escolha da integração determina grande parte das outras decisões: torna obrigatório, por exemplo, investir pesadamente na educação. Força os empresários a produzir não mais para um mercado cativo, que tem de aceitar produtos caros e de qualidade baixa, mas para consumidores que podem escolher e que exigem produtos com outros padrões. O esforço do agronegócio para se ajustar aos padrões internacionais é um exemplo dessa mudança de atitude. Melhor para os consumidores, melhor para o País.