Título: 'Estou presidente. Eu sou mesmo é dirigente sindical¿, diz Lula
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/04/2005, Nacional, p. A4

Depois de ouvir críticas de sindicalistas às reformas trabalhista e sindical, na abertura de uma reunião da Organização Regional Interamericana de Trabalhadores (Orit), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem uma veemente defesa das duas propostas. Para Lula, o sindicalismo tem de se adaptar à nova realidade do trabalho e estar mais conectado com o que acontece nos outros países, não se limitando a discutir reivindicações por melhores salários e fazer críticas ao governo. "Para isso, não precisa de sindicato, o povo faz em casa", afirmou. Ele alertou que, quando deixar o governo, participará de assembléias no Sindicato dos Metalúrgicos: "Porque não sou presidente, estou presidente e eu sou mesmo é dirigente sindical."

Ao discursar de improviso por mais de uma hora, Lula declarou que a reforma sindical precisa ser feita e é necessário debater a reforma trabalhista. "Discutir a reforma trabalhista não é tirar direito dos trabalhadores, é se adequar à realidade do mundo, às novas condições", explicou. "Para muitas categorias, as coisas mudaram muito e o dirigente sindical que quiser fazer em 2005 o tipo de sindicalismo que eu fazia na década de 70 vai fazer equivocado - hoje ele tem de ser mais criativo e, sem nenhum sentido pejorativo à minha pessoa, mais inteligente e mais propositivo."

Para o presidente, ser sindicalista "era mais fácil" no seu tempo, pois significava "ir à porta da fábrica fazer discurso". "Isso não é nenhum demérito à minha pessoa, mas naquela época era mais fácil criticar o que se chamava de patronal." Ele avalia que agora o sindicato deve participar da discussão das políticas públicas, em todos os níveis. "É preciso ter mais inserção e informação do que acontece no País e no mundo. Os sindicalistas têm de ser mais inteligentes, mais propositivos."

Lula frisou que a reforma sindical enviada ao Congresso não é só do governo. "O governo é cúmplice de uma proposta construída pelos mais importantes dirigentes sindicais brasileiros e pelos mais representativos setores empresariais, com a participação do governo", ressaltou. "Que ninguém saia dizendo que o governo está tentando impor uma reforma na estrutura sindical, pois essa reforma é resultado do que empresários e sindicalistas conseguiram produzir neste país."

Nesse momento do discurso, ouviram-se algumas palmas dos sindicalistas favoráveis ao projeto, ligados à Centra Única dos Trabalhadores (CUT) e à Força Sindical, e silêncio dos representantes da Central Geral dos Trabalhadores (CGT), deixando clara a divisão no setor.

O presidente comentou que as divergências devem ser superadas no Congresso. "Se a reforma sindical não é mais perfeita, é porque não somos perfeitos." Segundo ele, os dirigentes sindicais não podem continuar falando em liberdade e autonomia sindical "e ficar defendendo a cópia fiel da carta de Mussolini que permeia a estrutura sindical".

PROMESSAS

No discurso, Lula sugeriu que nem sempre as promessas feitas "no processo político" são cumpridas. "Quando participamos de um processo político, geramos dentro de nós todas as expectativas que a gente tinha de gerar", disse, comparando a sua eleição com a de um dirigente de sindicato. "Quando vocês tomam posse percebem que, para concretizar a expectativa que geraram, leva mais tempo do que imaginaram. Muito mais tempo."