Título: Política externa avançou mais que em 50 anos, diz Lula
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/04/2005, Nacional, p. A6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu ontem às duras críticas que vem sofrendo e defendeu sua política externa e a necessidade de reforçar relações com os países da América Latina e da África, como forma de reduzir a dependência comercial dos Estados Unidos e da União Européia. "Faz dois anos que não se discute mais a criação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas) no Brasil porque tiramos a Alca da pauta. E tiramos de que jeito? Tiramos fortalecendo o Mercosul, tiramos criando uma coisa chamada Comunidade Sul-Americana de Nações", declarou, em discurso na abertura da Organização Regional Interamericana de Trabalhadores. Ele salientou que os Estados Unidos e a União Européia são parceiros importantes, mas os países sul-americanos não podem "ser dependentes deles". Por isso, insistiu, é preciso criar outro mecanismo de relação comercial, "sem precisar brigar" com os dois. Lula anunciou que até agosto o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai financiar pelo menos uma obra de infra-estrutura em cada um dos países da América do Sul, e avisou que ainda mais será feito em relação à região.

Na sua avaliação, mudou o foco das discussões sobre política externa no País. O presidente disse que sua política externa nestes dois anos de governo representou "um avanço maior do que o que foi conquistado nos últimos 40 ou 50 anos".

Lula comentou que já viajou mais para países da América do Sul do que todos os presidentes que o Brasil teve, assim como para países da África, por causa da dívida histórica que o País tem com aquele continente. "É essa relação política que vai fazer com que tenhamos força na hora em que quisermos mudar a ONU (Organização das Nações Unidas), e é essa a relação política que pode ajudar a mudar a correlação de forças dentro da OMC (Organização Mundial do Comércio)", argumentou, acrescentando que por isso considera necessário trabalhar muito nesse sentido.

"Se você pensar apenas na sua próxima eleição, você não sai do seu país, você não faz política externa", afirmou. "E você não estabelece um novo padrão de enfrentamento democrático nos fóruns bilaterais."

DISPUTAS

Ao defender o Mercosul, Lula pregou o fim das disputas entre Brasil e Argentina e o estabelecimento de uma relação de confiança. "No caso do Mercosul, o Brasil precisa da Argentina e a Argentina precisa do Brasil e os dois têm de ajudar Uruguai e Paraguai a se desenvolverem", disse. "É preciso acabar com a disputa de quem é mais bonito ou mais inteligente entre brasileiros e argentinos; acabar com a disputa de que tudo que vem de fora é melhor do que o que é produzido por nós mesmos."

Em seguida, fez uma brincadeira: "Eu só não quero tirar a divergência no futebol, nem com o Uruguai nem com o Paraguai nem com a Argentina, a Venezuela, a Colômbia, o Equador. Não quero", disse. "Isso é uma coisa esportiva, vamos deixar para lá. Os argentinos pensam que são melhores que os brasileiros, os brasileiros pensam que são melhores que os argentinos, mas é disputa. Eu quero saber é na política. Na política nós temos compromissos históricos com a formação da nossa gente e com o futuro do país que nós queremos construir."