Título: Comércio de RR fecha portas em protesto contra reserva
Autor: Vasconcelo Quadros
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/04/2005, Nacional, p. A9

Encabeçada pelos produtores de arroz e com a adesão de comerciantes, que fecharam as portas a partir das 15 horas, a manifestação contra a homologação da Reserva Raposa Serra do Sol reuniu cerca de 4 mil pessoas ontem à tarde na Praça do Garimpeiro, na região central de Boa Vista. O protesto foi contra o presidente Lula e o decreto que homologou a reserva, em Roraima. Políticos, empresários e lideranças indígenas contra a demarcação se revezaram no palanque para criticar o governo. "É um recado ao Lula. Nós não vamos sair da área", disse o presidente da Associação dos Arrozeiros de Roraima, Luiz Faccio, um dos principais produtores do Estado.

Lula foi brindado com adjetivos como nefasto, entreguista e inimigo de Roraima. Faccio acha que a mais forte razão da homologação, que engloba uma área contínua com 1,758 milhão de hectares, é a cobiça por uma região onde estão as maiores jazidas minerais do mundo.

Levantamento da Fundação de Meio Ambiente de Roraima mostra que sob a reserva pode estar a maior jazida de ouro do mundo, além de outros minerais como diamantes, cassiterita, nióbio, tântalo e titânio (minério radioativo usado em usinas nucleares).

Os arrozeiros brigam por uma faixa com cerca de 100 mil hectares de terra que circunda a reserva e faz fronteira com a Guiana Inglesa. Os arrozais estão em fazendas antigas, se desenvolveram nos últimos 10 anos e, sem pagar impostos nas áreas indígenas, se transformaram na principal atividade econômica do Estado. A área plantada, segundo o governo estadual, representa 15 mil hectares, de onde saem 70% das 160 mil toneladas de arroz produzido e industrializado anualmente em Roraima. As terras férteis e o clima estável - que permite três safras anuais - é grande atrativo para os agricultores. A média de produtividade, de 6,5 toneladas por hectare, é a maior do mundo em lavoura de extensão.