Título: Crise não acabou e pode virar anarquia, diz analista
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Fonte: O Estado de São Paulo, 21/04/2005, Internacional, p. A12

"A crise equatoriana permanecerá." A previsão é do analista político argentino Rosendo Fraga, diretor do Centro de Estudos Nueva Mayoría, que, em entrevista ao Estado, vislumbrou um futuro cheio de crises para o Equador. A seguir, trechos da entrevista. A Câmara de Deputados equatoriana destituiu o presidente Lucio Gutiérrez. Há uma saída para esta crise?

Esta crise no Equador vai continuar. Ela segue o modelo das crise equatorianas ocorridas nos últimos anos. É o mesmo modelo das crises argentinas recentes, mas também na Bolívia e até da crise que levou à queda do presidente Alberto Fujimori no Peru. O modelo destas crises é que todas acabam resultando em uma sucessão transitória, que se define no marco constitucional. Nestes casos, o sucessor é sempre o vice-presidente, ou, na falta deste, o presidente do Parlamento. Em todas estas crises, não é abandonado o marco democrático. Mas, no contexto geral, isto volta a confirmar a fragilidade do funcionamento institucional da democracia na América Latina - onde a democracia não está em risco, mas fica evidente que é difícil terminar os mandatos.

O comando das Forças Armadas do Equador removeu o respaldo a Gutiérrez. Mas será que existe a possibilidade de que ele consiga o apoio de algum setor militar e tente voltar ao poder?

Considero isso pouco provável. O maior problema é a possibilidade de que ocorram conflitos sociais nas ruas... o grande risco, maior do que uma intervenção militar, é o de que surja uma situação de anarquia.

Os últimos quatro presidentes do Equador viveram de crise em crise e não conseguiram acabar seus mandatos...

Existe o caso do presidente Velazco Ibarra, um civil, que, entre as décadas de 30 e 70, foi presidente cinco vezes... e não terminou nenhum de seus mandatos! O currículo do Equador é impressionante, fato que coloca esse país dentro do grupo daqueles que vivem constantemente em problemas, como a Argentina, a Bolívia e o Haiti. O Equador é um dos países mais instáveis da região.

Quais são as possibilidades de um eventual retorno do ex-presidente Abdalá Bucarám ao poder?

Voltar ao país é uma coisa. Mas um retorno de Bucarám ao poder é pouco provável... embora não seja impossível. Aliás, em matéria de política, mais ainda na América do Sul, nada é impossível.