Título: Dissolução de Corte foi estopim do caso
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/04/2005, Internacional, p. A12

Congressistas aliados do governo trocaram juízes por simpatizantes

QUITO-A crise no Equador foi desencadeada quando aliados do presidente Lucio Gutiérrez no Congresso demitiram, em dezembro, 27 dos 31 juízes da Suprema Corte, para substituí-los por simpatizantes do governo. A política econômica austera e o estilo de governo autoritário do presidente já vinham contrariando muitos equatorianos. Mas os manifestantes começaram a sair às ruas depois que, em 31 de março, a Suprema Corte inocentou os ex-presidentes Abdalá Bucarám e Gustavo Noboa e o ex-vice-presidente Alberto Dahik das acusações de corrupção, permitindo que eles voltassem ao Equador. Todos haviam se refugiado em outros países latino-americanos para escapar das acusações.

Em meio a protestos diários, Gutiérrez dissolveu a Suprema Corte e decretou na sexta-feira à noite o estado de exceção em Quito para tentar conter a crise. Mas a medida não impediu que os manifestantes saíssem às ruas e depois de apenas 20 horas o presidente revogou o estado de exceção, mas manteve a decisão de dissolver a Corte, o que, segundo ele, era necessário porque o tribunal habia sido o estopim dos protestos. No domingo, em sessão extraordinária, o Congresso confirmou a dissolução da Suprema Corte.

De nada serviu a Gutiérrez assegurar que não teve nada a ver com o retorno ao país de Bucarám, pois a oposição o acusou de ser o culpado direto.

Seus 825 dias de mandato foram marcados por constantes conflitos políticos com aliados, opositores, indígenas e bloqueios parlamentares que seguiram a trajetória de outros recentes governantes da nação andina cronicamente instável, onde presidentes foram depostos em 1997 e em 2000, desta vez com a ajuda de Gutiérrez, então coronel do Exército.

Gutiérrez livrou-se de um julgamento político que os conservadores, a esquerda e os indígenas tentaram submetê-lo em novembro de 2004, graças a suas alianças políticas.