Título: 'Empresa já adia investimentos'
Autor: Marcelo Rehder, Vera Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/04/2005, Economia, p. B3

O consultor José Roberto Mendonça de Barros disse ontem que a política monetária apertada adotada pelo Banco Central (BC) desde setembro já começou a fazer com que empresas adiem "discretamente" os investimentos. Segundo ele, muitas companhias que saíram do vermelho em 2004 e ampliaram as vendas com a adoção do terceiro turno de trabalho estão num momento em que precisam decidir se aumentam muito o nível de produção, o que requer um grande nível de capital, ou se esperam mais um pouco. "Para aumentar a fabricação de mercadorias, as companhias precisam escolher se vão aplicar recursos elevados de caixa ou tomam financiamentos. Como os juros estão altos e as taxas em níveis reais ficarão assim até o fim do ano, para muitos é mais vantagem aguardar e aplicar no mercado financeiro", comentou. "Além disso, 2006 apresenta um componente a mais de dúvidas, pois será um ano eleitoral." Ele destacou que os setores que estão com o pé no freio são mais voltados ao mercado interno, entre eles o têxtil, calçados e alimentos.

Para Mendonça de Barros, o desembolso de investimentos neste momento está ocorrendo especialmente por setores muito ligados a exportações. Segundo ele, a força do comércio exterior no início do ano, puxado pelo bom desempenho da economia mundial, fez com que as previsões da MB Associados, da qual é diretor, elevassem o saldo da balança comercial de US$ 30 bilhões para US$ 34 bilhões, enquanto as exportações devem saltar de US$ 103 bilhões para US$ 107 bilhões.

O consultor afirmou que a elevação dos juros para 19,5% levará a economia a crescer 3,5% neste ano, com "viés de baixa". Além disso, as financeiras ficarão bem mais seletivas no crédito no segundo semestre. No fim de 2005, segundo ele, a massa salarial do setor privado deverá crescer 3,9% (subiu 1,9% em 2004), a do setor público repetirá os 5,5% de 2004 e a folha do INSS subirá perto de 10% por causa do aumento do salário mínimo para R$ 300 a partir de 1.º de maio e do surgimento de milhares de novos aposentados.