Título: Copom decepciona e preocupa
Autor: Marcelo Rehder, Vera Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/04/2005, Economia, p. B3

O Comitê de Política Monetária (Copom) voltou a decepcionar empresários, sindicalistas e representantes do comércio. "Mais uma vez, a indústria e o conjunto da sociedade experimentam a frustração de verificar que a decisão do Copom se coloca numa linha equivocada, depois de sete meses de alta dos juros, quando havia expectativa de que, finalmente, seria interrompido o aperto monetário", afirmou o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro. O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, ressaltou que os juros altos, juntamente com os impostos e o câmbio sobrevalorizado, tiram a competitividade da indústria brasileira. "A elevação da Selic frustrou a sociedade, os empresários e trabalhadores que, com a mesma expectativa da eleição do papa, aguardavam a fumaça branca da redução dos juros."

Para o presidente da Associação Brasileira da Infra-Estrutura e Indústrias de Base (Abdib), Paulo Godoy, a decisão significa que o País continua sem sair da armadilha que está armada. "Juros altos estimulam a entrada de capital estrangeiro de curto prazo que, por vez, deprecia o câmbio, com valorização do real. Essa valorização atrapalha as metas de exportação e prejudica a formação de um forte superávit da balança comercial. Sem isso, as avaliações dos indicadores do Brasil, como o risco país, são contaminadas e as autoridades precisam aumentar novamente os juros para atrair capitais."

A Federação Nacional das Empresas de Crédito, Financiamento e Investimento (Fenacrefi) considerou surpreendente, mas coerente, a decisão do Copom. O vice-presidente da entidade, José Arthur Assunção, afirma, em nota, que esperava a manutenção da taxa, considerando a última ata do Copom. Mas, observa, os últimos índices de inflação vieram um pouco acima do esperado. "Creio que, por isso, o BC preferiu fazer um último ajuste na Selic". Mas ele não acredita num ajuste imediato de taxas das financeiras. "Há muita concorrência entre elas", justifica.

A Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio) prevê um crescimento menor do varejo no ano. "Esperávamos, ao menos, que não houvesse aumento. Em função dos últimos aumentos, a expectativa é crescer menos. Em vez de 4%, revimos a previsão para 3%", afirma Abram Szajman.

Já o presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), Paulo Saab, disse que nada justifica a alta dos juros, no momento em que o Brasil decide abrir mão dos recursos do FMI. "Só se pode entender essa alta como um remédio errado. O governo continua combatendo inflação de custo gerada por ele próprio com remédios para inflação de demanda."

O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Luiz Marinho, cobrou a intervenção do presidente Lula na política monetária para reduzir os juros. Para o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, o presidente Lula precisa se lembrar de suas promessas de campanha, que incluíam baixar a Selic.