Título: Juro já elevou a dívida a R$ 873,6 bi
Autor: Adriana Fernandes, Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/04/2005, Economia, p. B4

A dívida interna em títulos públicos do governo federal já cresceu R$ 63,35 bilhões apenas no primeiro trimestre deste ano e chegou ao valor recorde de R$ 873,61 bilhões. Somente em março, o aumento foi de R$ 28,22 bilhões, na comparação com fevereiro. O peso do juros no estoque da dívida e o volume maior de emissões de títulos nesses três primeiros meses do ano foram os responsáveis pelo aumento. No primeiro trimestre de 2004, o crescimento do estoque da dívida foi bem menor: R$ 28,41 bilhões. Apesar da elevação, o governo tem conseguido melhorar o perfil da dívida, aumentando a participação de títulos prefixados e os prazos de vencimentos dos papéis. Os títulos prefixados são considerados melhores para administração da dívida porque a sua taxa de remuneração é definida na hora do leilão. Dessa forma, o estoque da dívida fica menos vulnerável à elevação da taxa Selic pelo Banco Central. Em março, a participação dos papéis prefixados chegou a 21,52% do total da dívida, o maior nível desde 1999, quando se iniciou a série histórica desse indicador.

Por outro lado, a participação de títulos atrelados à taxa Selic, chamados de pós-fixados, aumentou de 52,41% para 56,98% no primeiro trimestre. Esses títulos já somam R$ 497,81 bilhões e deixam a dívida cada vez mais sensível a qualquer decisão de aumento dos juros pelo Comitê de Política Monetária (Copom). Desde setembro, o Banco Central vem elevando progressivamente essa taxa, elevando o custo de uma parcela cada vez maior da dívida.

O coordenador de Operações da Dívida Pública do Tesouro Nacional, Ronnie Tavares, destacou como ponto positivo a manutenção da trajetória de queda da dívida cambial (títulos atrelados à variação do câmbio), que hoje somam R$ 43,12 bilhões e representam 4,94% do total do endividamento público. "A exposição cambial deixou de ser relevante", avaliou. Outro dado destacado pelo coordenador foi a redução da parcela de títulos a vencer no prazo de 12 meses, chamada de dívida de curto prazo. Quanto menor é essa parcela, melhor é avaliado o País pelas agências de classificação de risco.

Embora o prazo médio de vencimento do estoque da dívida tenha diminuído de 28,13 meses em dezembro para 27,76 meses em março, a tendência, segundo o coordenador, é que o movimento se reverta, já que o Tesouro vem alongando o prazo de emissões dos títulos ofertados nos últimos leilões. Quanto maior é o prazo de vencimento dos títulos, menor é a dívida de curto prazo que o governo é obrigado a pagar.