Título: Capital em calma, após caos e violência
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Fonte: O Estado de São Paulo, 22/04/2005, Internacional, p. A8

O Equador se encontrava em relativa calma ontem, um dia depois da deposição do presidente Lucio Gutiérrez. Já não se ouviam os ensurdecedores buzinaços da tarde de quarta-feira em comemoração pela saída do chefe de Estado. E as multidões que gritavam e agitavam bandeiras do Equador se recolheram depois de uma noite de celebração. Apesar do frio e da chuva constante, um grupo de manifestantes permaneceu toda a madrugada diante da residência do embaixador do Brasil em Quito, Sérgio Florêncio, onde Gutiérrez se havia refugiado. Os manifestantes disseram que haviam montado guarda para evitar que ele fugisse. Pela manhã, os manifestantes, que pediam a prisão do ex-presidente, foram dispersados pela polícia.

"Não fuja, covarde", "Lucio corrupto", gritavam alguns pedestres ao passar diante da sede diplomática brasileira.

Os violentos protestos na capital deixaram quatro mortos e dezenas de feridos, segundo a Cruz Vermelha equatoriana. Um jornalista chileno morreu na noite de terça-feira de parada cardiorrespiratória, depois de inalar gás lacrimogêneo, e outras três pessoas morreram na quarta-feira, entre elas uma mulher atropelada por um veículo militar. Em meio ao caos que tomou conta de Quito na quarta-feira, as TVs mostravam imagens de um homem mascarado em um prédio do governo disparando contra a multidão.

A organização Human Rights Watch pediu ontem ao novo governo equatoriano que realize uma investigação sobre as mortes durante os protestos.

BUCARÁM

A polícia do Equador procurava ontem o ex-presidente Abdalá Bucarám, contra quem a Promotoria do país emitiu uma ordem de prisão preventiva.

Pessoas ligadas a Bucarám - que governou o país de 1996 a 1997 e foi destituído pelo Congresso por incapacidade mental - disseram que eles conseguiu fugir de um cerco policial e abandonou o país.

Jimmy Jairala, membro do Partido Roldosista Equatoriano, disse que não podia revelar seu paradeiro e não confirmou se Bucarám havia voltado ao Panamá, onde permaneceu oito anos no exílio até voltar ao Equador no começo do mês. A decisão da Suprema Corte de livrar Bucaram e o ex-presidente Gustavo Noboa das acusações de corrupção, permitindo seu retorno ao país, deflagrou a onda de protestos. O Panamá disse que não sabe se ele voltou ao país.