Título: Desde 89, dez presidentes da região caíram
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/04/2005, Internacional, p. A8

A remoção de Lucio Gutiérrez da presidência do Equador é a décima interrupção de um mandato presidencial na América do Sul desde 1989 - em média, uma a cada ano e meio. Segundo um relatório do Centro de Estudos Nueva Mayoría, dos países da região, só três - Uruguai, Chile e Colômbia - não passaram por turbulências políticas que implicaram na saída antecipada de seus presidentes. Argentina, Bolívia e Equador são os que estão no topo do ranking de interrupções presidenciais. Segundo o Nueva Mayoría, mais de 20 anos depois do restabelecimento da democracia nos países da América do Sul, os governos da região enfrentam constantes crises políticas. O centro afirma que isso é um "sinal de alarme" sobre o desempenho institucional nestes países.

As interrupções de mandatos ocorridas entre 1989 e 1999 resolveram conflitos políticos existentes no momento. Mas, de forma geral, nas turbulências entre 1999 e 2003, as crises tiveram desfechos caóticos, com renúncias presidenciais em contextos de violência e ingovernabilidade.

A Argentina inicia a lista das dez interrupções em 1989 com a renúncia antecipada do presidente Raúl Alfonsín (1983-89), que decidiu abandonar o poder seis meses antes do fim do mandato, no meio de hiperinflação, greves gerais e ameaças de levantes militares. O país voltaria a ter problemas em dezembro de 2001, quando o presidente Fernando De la Rúa renunciou após uma onda de saques na Grande Buenos Aires e protestos na frente do próprio palácio presidencial, que causaram a morte de 32 pessoas.

Depois de Alfonsín foi a vez de o Brasil assistir à renúncia de Fernando Collor de Mello, em 1992. Em 1993, o presidente da Venezuela, Carlos Andrés Pérez, foi destituído, acusado de corrupção.

A turbulência equatoriana começou em 1997 com a remoção Abdalá Bucaram, declarado "mentalmente incapaz" pelo Parlamento. No ano 2000, seria a vez da queda de Jamil Mahuad, no meio do caos causado pela desvalorização da moeda. Turbulências políticas e sociais, com assassinatos de líderes políticos ou de manifestantes, derrubariam os governos de Alberto Fujimori (Peru), Raúl Cubas (Paraguai) e Gonzalo Sánchez de Losada (Bolívia).

Para o analista Claudio Uriarte, do jornal Página 12, "uma nova figura de renovação política parece estar surgindo na América Latina: o golpe popular". Segundo ele, a mobilização das massas é um padrão nas interrupções recentes de mandatos: "As pessoas nas ruas dão aos levantes uma legitimidade que os tanques nas ruas dificilmente alcançariam."