Título: Só líder peruano telefonou a Lula
Autor: Denise Chrispim Marin, Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/04/2005, Internacional, p. A9

Em pleno andamento da integração sul-americana, o presidente do Peru, Alejandro Toledo, foi o único líder da região a telefonar para seu colega brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, para trocar idéias e informações sobre a crise no Equador e a queda do presidente Lucio Gutiérrez. A conversa se deu na tarde de anteontem. Desde então, o presidente Lula não havia recebido nenhum telefonema de líderes da região - sinal da despreocupação do restante dos chefes de Estado sul-americanos, o que é improvável, ou da indiferença com as pretensões de liderança do Brasil na região.

Ontem, coube ao ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, a tarefa de informar os governos vizinhos sobre a decisão do Palácio do Planalto em conceder o asilo ao ex-presidente Lucio Gutiérrez. Amorim telefonou aos chanceleres do Paraguai, Leila Rachid, que preside neste semestre o Mercosul, do Uruguai, Reinaldo Gargano, e do Chile, Ignácio Walker.

Curiosamente, o diálogo fraco de Brasília com a vizinhança se deu em meio a um episódio preocupante na América do Sul, que o governo brasileiro vinha acompanhando com atenção. Na terça-feira, o Brasil sediou a reunião dos chanceleres sul-americanos. O resultado mais consistente desse encontro foi um apelo para que as diferentes forças políticas e da sociedade civil do Equador se dispusessem a buscar conjuntamente uma solução pacífica e de consenso e evitassem decisões abruptas que pudessem romper a ordem democrática.

QUEDA PREVISTA

O presidente cubano, Fidel Castro, afirmou que a destituição de Gutiérrez era previsível após a perda de apoio dos grupos indígenas que o haviam levado ao poder em 2003 e o acusou de ter "estreitado fileiras com o império" americano, mantendo bases dos EUA no Equador.

"Tinha a total convicção de que o cavalheiro (Gutiérrez) não duraria muito (no poder)", disse Fidel na noite de terça-feira em um discurso no qual analisou a crise política no país sul-americano.

Fidel comentou que Gutiérrez "quis parecer-se a (o presidente venezuelano Hugo) Chávez" e assumiu no início de seu mandato "uma posição progressista", que lhe valeu o apoio da comunidade indígena. Mas, segundo Fidel, essas forças o apoiaram não porque tinham confiança, mas porque não havia outros candidatos.