Título: Presidente do BC reúne-se com advogados para 'troca de idéias'
Autor: Adriana Fernandes e Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/04/2005, Economia, p. B4

Sob a ameaça de ser investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por suspeita de envolvimento em crimes de evasão de divisas, sonegação fiscal e crime eleitoral, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, aproveitou ontem o feriado de Tiradentes para se reunir com advogados, em Brasília. Por mais de três horas, Meirelles esteve no escritório Caputo, Bastos, Fruet e Bouissou Advogados, uma das principais bancas de Brasília, especializada em processos que correm em tribunais superiores. Meirelles chegou no início da manhã ao prédio do escritório acompanhado de quatro seguranças, mas ao sair não quis falar sobre o motivo da reunião. "Foi um encontro social para uma troca de idéia. Somos amigos de bastante tempo e aproveitei o feriado para colocar a conversa em dia", disse ao Estado o presidente do BC, ao ser questionado se estaria preparando a defesa que poderá ter de apresentar aos ministros do STF.

O procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, pediu ao STF a abertura de investigação contra Meirelles, mas, consultado pelo relator do pedido, ministro Marco Aurélio Mello, o plenário decidiu que vai primeiro julgar a constitucionalidade da lei que deu status de ministro ao presidente do BC. Caso o STF conclua que Meirelles tem status de ministro e direito a foro privilegiado, o STF decidirá então se abre a investigação. Se não, o caso pode ir para a Justiça comum. O julgamento sobre o status de ministro está previsto para o início de maio.

Apesar da discrição do encontro com os advogados, o presidente do BC foi surpreendido pela reportagem do Estado. Os seus seguranças chegaram a chamar a brigada de incêndio do prédio para verificar a possibilidade de Meirelles deixar o escritório pela saída de emergência, para não ser visto. Mas ele preferiu deixar o prédio por onde entrou. Por questão de segurança, Meirelles teve de descer pelo elevador de carga.

Ao contrário de ontem, há duas semanas, quando o pedido de Fonteles foi entregue ao STF, o presidente do BC evitou contato com a imprensa que o esperava na portaria do Ministério da Fazenda. Na ocasião, saiu pela porta dos fundos, que foi aberta a pedido da sua segurança pessoal.

De terno, gravata e pasta de trabalho em pleno feriado, Meirelles contou que já tinha estado no Banco Central. Simpático e sorridente, ele argumentou que não poderia dar declarações sobre a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) que, na quarta-feira, elevou pela oitava vez consecutiva a taxa básica de juros, a Selic.

"Estou no período de pós-Copom e não posso falar até a publicação da ata", justificou. A ata só será divulgada na próxima quinta-feira. O documento vai relatar os motivos que levaram o BC a aumentar a Selic para 19,50%. Antes da divulgação da ata, Meirelles participará, na Colômbia, de encontro do Centro de Estudos Monetários Latino-Americanos (Cemla), organismo que busca promover o entrosamento entre os bancos centrais da região.

O presidente do BC não quis falar de política e dos rumores de que estaria prestes a se filiar ao PL ou PTB para se candidatar nas próximas eleições ao governo de Goiás. "Não tem decisão sobre esse assunto. Por enquanto é só o Banco Central", disse.