Título: EUA reafirmam interesse na Alca
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/04/2005, Economia, p. B6

O deputado federal Robert Portman, republicano de Ohio nomeado para suceder Robert Zoellick como representante do comércio dos Estados Unidos (USTR), reiterou ontem o compromisso da administração Bush "de continuar o esforço para criar a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), trabalhando de perto com o nosso co-presidente e parceiro, o Brasil". Embora seja uma posição conhecida, a declaração de Portman, feita perante a comissão de finanças do Senado, durante sua sabatina de confirmação do comando do USTR, assumiu nova importância diante da afirmação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na quarta-feira, segundo a qual ele "tirou a Alca da pauta" e "há dois anos não se discute a Alca no Brasil". O USTR reagiu à declaração com uma nota na qual recordou a Brasília a responsabilidade assumida diante do hemisfério, ao aceitar co-presidir as negociações com os EUA. "Acreditamos que a integração econômica de nosso hemisfério ajudará todos os nossos povos a prosperar de forma mais eficaz na economia global", disse o porta-voz do USTR, Richard Mills. "Continuamos a querer buscar os objetivos da Alca e esperamos que o Brasil continue a trabalhar conosco para isso. Como co-presidentes, compartilhamos a responsabilidade diante dos nossos parceiros do hemisfério de liderar as negociações e é importante que façamos isso."

Apesar de a falta de entusiasmo da administração Lula pela Alca não ser novidade em Washington e de não haver expectativa de conclusão de um acordo regional antes da conclusão da Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC), a declaração do presidente, feita em um de seus discurso de improviso, surpreendeu por três razões. A primeira é que, há menos de dois meses, o ministro-chefe da Casa Civil da Presidência, José Dirceu, que era tido como um dos adversários do acordo regional, proclamou o interesse e o empenho do País na criação da Alca, durante e depois de reuniões com a secretária de Estado, Condoleezza Rice, e o conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, Stephen Hadley, em Washington.

A segunda é que a frase de Lula deixou o governo na situação desconfortável de ter que esclarecer a Washington e aos outros 32 países interessados se o Brasil agiu de má-fé mantendo-se na liderança de um processo que já tinha tirado de sua pauta. Também chamou a atenção o momento escolhido para fazer a declaração: a menos de uma semana de receber a visita de Condoleezza Rice, que certamente perguntará se o Brasil está ou não comprometido em levar adiante o projeto.

Uma explicação que o governo ensaiava ontem para conter o estrago é que a intenção de Lula foi dizer que o assunto deixou de ser um tema controvertido internamente no País, em parte por causa da nova ênfase que o governo deu à busca de outros acordos na América do Sul. Seja como for, o USTR propôs para 12 de maio nova reunião dos co-presidentes da Alca, o brasileiro Adhemar Bahadian e o americano Peter Allgeier, para finalizar um entendimento que permita retomar as negociações, interrompidas desde fevereiro do ano passado.

Segundo fontes oficiais, o governo brasileiro informou o USTR que o chanceler Celso Amorim quer ter um encontro com Portman antes de uma nova reunião dos co-presidentes. Contudo, isso depende da confirmação de Portman, que é esperada para 2 de maio mas pode demorar, porque o senador democrata Evan Bayh ameaça bloquear a votação para forçar a aprovação de uma lei comercial que levaria a um endurecimento com a China.

Por outro lado, o México, que abriga o secretariado da Alca na cidade de Puebla, e o Banco Interamericano de Desenvolvimento, que divide com o México os custos do secretariado, informaram que o dinheiro que custeia a estrutura das negociações acabará em junho e não faz sentido manter um secretariado se as conversações não forem prontamente retomadas - e para valer.