Título: Exportação de carne cresce 23%
Autor: Eduardo Magossi
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/04/2005, Economia, p. B10

Nunca o Brasil exportou tanta carne bovina como no primeiro trimestre de 2005. Foram 280,4 mil toneladas de carne, 23,25% superior às exportações verificadas em igual período de 2004, de 227,5 mil toneladas. O aumento das compras da Bélgica, Argélia e, principalmente Egito, compensaram o embargo da Rússia, que terminou definitivamente nesta semana. No final de março, a Rússia já havia liberado as importações parciais de carne bovina do Brasil. "O retorno da Rússia vai provocar novo aumento expressivo das exportações brasileiras. Nos primeiros 17 dias de abril, a Rússia comprou mil toneladas de carne por dia", afirma Antonio Jorge Camardeli, diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carnes (Abiec).

A receita com as exportações também foi recorde no primeiro trimestre, acumulando US$ 596,5 milhões, valor 23,5% maior que o registrado entre janeiro e março de 2004, quando o faturamento ficou em US$ 482,9 milhões.

"O crescimento da receita deveu-se pelo aumento do volume exportado porque os preços recuaram ligeiramente", explica a analista da Tendências Consultoria, Amaryllis Romano. A tonelada de carne caiu de US$ 2,206 em março de 2004 para US$ 2,129 em março deste ano.

O bom desempenho das exportações não impediu, contudo, que o governo decidisse pela redução dos recursos destinados à defesa sanitária agropecuária em mais de 80%, de R$ 137 milhões para R$ 24 milhões, recursos insuficientes para efetivar todos os programas de prevenção e erradicação da aftosa. "Muitos Estados ficarão na dependência dos recursos locais, de programas estaduais, para aplicar em defesa, o que, em alguns casos, corresponde a nada", lembra Amaryllis.

O secretário de Agricultura do Estado de São Paulo, Duarte Nogueira, disse que os Estados mais ricos, como São Paulo, não sofrerão com este corte de verbas, mas outros poderão ficar mais expostos. Este é o caso do Pará, por exemplo, onde foi encontrado um foco de aftosa em junho de 2004 e levou ao embargo de vários países para compra de carne brasileira.

E são justamente os pecuaristas do Pará que estão pressionando o Ministério da Agricultura para que seja autorizado o trânsito de animais em pé e carne com osso do Estado para áreas com reconhecimento internacional de livre de febre aftosa com vacinação. Segundo o presidente da Federação da Agricultura do Estado do Pará, Carlos Fernandes Xavier, o pedido foi encaminhado ao ministério no mês passado.

Na quarta-feira, Xavier e representantes dos pecuaristas voltaram a Brasília para reafirmar o pedido. "Estamos confiantes que a resposta será positiva. Devemos ter um posicionamento favorável assim que o ministro voltar para Brasília", comentou.

PRESSÃO

Nos bastidores, contudo, circulam informações de que a pressão dos pecuaristas está muito grande, com ameaças de entrarem na Justiça contra o Ministério da Agricultura até a intimidação de técnicos do governo. O argumento dos pecuaristas é que 70% do rebanho do Pará está em áreas reconhecidas pelo governo brasileiro como livre da doença com vacinação. A Organização Internacional de Epizootias (OIE) não reconhece essa situação sanitária. Esta condição só permite a venda de animais vivos e carne com osso para os Estados do Nordeste, que, segundo ele, têm risco elevado para aftosa.

Xavier estima que os pecuaristas do Pará têm prejuízo de R$ 300 milhões por ano por causa da restrição de trânsito. A idéia é que os bovinos do Estado sejam comercializados apenas para frigoríficos que abastecem o mercado interno.

Mas o governo está relutante porque, segundo fontes próximas, a última sorologia realizada no Pará deu resultados preocupantes e o sentimento é de que uma eventual abertura do Pará para o circuito Centro-Oeste poderia colocar em risco todo o País. Se for aberta a fronteira, um garrote do Pará poderia ir até a uma exposição em Goiânia ou Londrina.

"No caso de um foco ser registrado, seria uma retração em todo o processo de erradicação pelo qual o Brasil já passou", disse Amaryllis Romano. Uma proposta apresentada pelo ministério foi de realizar uma nova sorologia no Pará, mas isto atrasaria o período de vacinação de maio.

A estratégia seria ter os resultados da sorologia em seis meses, a tempo de enviar para a OIE e solicitar a liberação da região. Mas os pecuaristas insistem em uma abertura imediata.

Segundo Xavier, o foco de aftosa registrado no ano passado no município de Monte Alegre não enfraquece a proposta. "O registro aconteceu numa região isolada, que está a 800 quilômetros de distância das áreas reconhecidas como livre da doença com vacinação", afirmou. Para analistas deste mercado, contudo, abrir o Estado do Pará de forma imediata seria agir como a Rússia no caso do embargo da carne brasileira. Pelo acordo sanitário existente entre Brasil e Rússia, os Estados vizinhos a focos devem ficar fechados por 1 ano para exportação de carne. Mas, de forma surpreendente, as vendas externas de Mato Grosso foram liberadas.