Título: Alencar culpa juros altos pela penúria das Forças Armadas
Autor: Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/04/2005, Nacional, p. A4

RIO - Os juros altos no Brasil estão comprometendo recursos que poderiam ser direcionados para o reaparelhamento das Forças Armadas e o atendimento à população em áreas essenciais. A crítica foi feita ontem pelo vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, dois dias depois da nova elevação da taxa básica de juros pelo Conselho de Política Monetária (Copom), do Banco Central. "Isso está errado. Por isso não tem havido recursos para atender às necessidades essenciais, como educação, saúde, saneamento, e também para a recuperação das perdas das Forças Armadas e de outras categorias, incluindo os civis", afirmou ele em entrevista, depois de participar da comemoração do Dia Nacional da Aviação de Caça, na Base Aérea de Santa Cruz, no Rio. Alencar baseou-se na nova taxa Selic, de 19,5%, para apresentar contas que, de acordo com ele, mostram que o Brasil paga 13 vezes mais juros reais (taxa Selic descontada a inflação em 12 meses) do que a média de outros 40 países "que também têm Banco Central e usam a política monetária para o controle da inflação".

Os comentários do vice-presidente foram feitos em meio à defesa do reajuste salarial para as Forças Armadas. Alencar disse que o salário dos militares já acumulou perdas que chegam a 35%, mas o pleito esbarra na "fase dura" do orçamento da União, que, por sua vez, está relacionada aos juros. "O quadro é muito difícil. Sabemos que o grande problema do orçamento da República é a rubrica dos juros com que se rola a dívida pública brasileira", disse.

Para ele, os juros altos comprometem não apenas setores básicos e investimentos em infra-estrutura, como também o reaparelhamento das Forças Armadas e a recomposição salarial da categoria. Como exemplo, Alencar disse que hoje a Força Aérea, " tem x aviões", mas 30% estão inoperantes. Ele sublinhou que as tradições das Forças Armadas mostram prestações de serviços "não só de defesa da ordem e da lei", mas também na defesa das fronteiras do País e até mesmo sua atuação em problemas de infra-estrutura, como recuperação de estradas ou a montagem de hospitais de campanha no Rio.

SITUAÇÃO DURA

Questionado por repórteres se suas críticas revelam um governo injusto por causa dos juros altos, Alencar respondeu com uma longa lista do que considera avanços na área econômica na gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "O governo herdou uma situação muito dura", justificou, destacando em seguida o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 5,2% em 2004 e o saldo da balança comercial. Segundo ele, essas conquistas vão se repetir neste ano e "mostram que o governo está trabalhando".

O vice-presidente defendeu o governo Lula, dizendo "que tem sensibilidade social" e responsabilidade. "Agora, a questão é que o Orçamento é apertado, muito apertado." Alencar brincou ao ouvir de uma jornalista que, apesar de todos os avanços listados, a política de juros do País não mudou: "Not yet, ainda não", afirmou.