Título: Severino prepara ataque à reforma sindical de Lula
Autor: Ângela Lacerda
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/04/2005, Nacional, p. A4

RECIFE - Dois dias depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fazer uma defesa contundente da reforma sindical, apresentada ao Congresso na Proposta de Emenda Constitucional 369, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), convocou a sociedade a se mobilizar contra ela. "Como presidente da Câmara dos Deputados, não tive alternativa a não ser receber o projeto do governo, mas nunca vi tanta divergência como tenho encontrado nesta reforma, que não me parece representar o anseio dos trabalhadores brasileiros", disse ele ontem, no Recife. O comentário foi feito em discurso durante almoço de homenagem de federações e sindicatos de trabalhadores de várias categorias, e de diferentes Estados. No encontro, a reforma sindical proposta pelo governo foi considerada "maléfica", "um embuste" e promotora do enfraquecimento do sindicalismo. "Precisamos nos irmanar, tomar uma posição. No silêncio ninguém consegue nada", disse Severino. "Vamos entrar nessa luta."

Antes do discurso, em entrevista, ele havia convocado a população a ir às ruas contra a alta taxa dos juros, para sensibilizar o ministro Antonio Palocci, 'que não está defendendo muito os desejos da população e dos micro e pequenos empresários que estão sendo sufocados por essas altas taxas de juros".

"Não tenho a menor dúvida de que o que a população precisa é mostrar o seu peso, como foi feito com a 232 (Medida Provisória que propunha aumento de impostos e que foi derrotada no Congresso)", pregou.

Depois, ele aliviou o discurso, dizendo não ter fechado questão sobre a reforma sindical, mas voltou a assegurar sua independência, mesmo integrando a base aliada do governo federal. "O presidente sabe da minha posição, não sou subordinado do Palácio, tenho autonomia suficiente para defender o povo brasileiro e apoiarei (o governo) naquilo que for ao encontro dos anseios da população", disse. "Se Lula acertar, estaremos com ele; se não acertar, estaremos contra".

Severino reiterou que em breve colocará na pauta de votação da Câmara a reforma tributária. "O governo federal não pode continuar com essa discriminação", comentou. "A União recebe todos os impostos, tem todas as facilidades enquanto os governos estaduais e prefeituras passam por sérias dificuldades".

O presidente da Câmara voltou a gabar-se de que, sob sua presidência, a Câmara dos Deputados é uma nova Casa, sintonizada com a sociedade e na qual os parlamentares têm peso igual. 'Essa história de baixo clero não existe mais, todos são iguais", afirmou.