Título: Amorim ameniza declarações de Lula
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/04/2005, Nacional, p. A5

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse ontem em São Paulo que a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) "não é uma obsessão" do governo brasileiro, "mas isso não quer dizer que ela não seja parte das nossas prioridades". Com esse comentário, o ministro, que participou de palestra sobre a política externa do governo, na sede do Tribunal Regional Federal (TRF) da 3.ª Região, procurou explicar a declaração feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo a qual o governo havia deixado a Alca "fora da agenda" na diplomacia da América Latina. "Quando o presidente Lula disse isso a minha leitura é de que ele tirou da pauta dos jornalistas", argumentou Amorim. "A Alca é parte de um largo espectro de ambições que o governo brasileiro tem que ter. Não é uma obsessão", esclareceu, acrescentando que ainda dedica boa parte de seu tempo a esse assunto. Mas ele destacou que o governo quer discutir a Alca que lhe convém e que também atende aos interesses do Mercosul. " Trata-se saber qual a Alca que interessa ao Brasil e ao Mercosul. Nós estamos dispostos a negociar essa Alca. Não podemos paralisar nossa vida enquanto a Alca não progride. Temos que progredir com a OMC (Organização Mundial do Comércio), com a UE (União Européia) e esperamos também progredir com a Alca."

O chanceler também aproveitou para comentar as declarações da secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, que declarou ter toda confiança em que o Brasil utilizará a energia nuclear para fins pacíficos. "Ficamos felizes (ao saber) que outros países, sobretudo os EUA, percebam plenamente que não somos risco para ninguém".

ISRAEL

Depois da palestra, em entrevista ao "Jornal da Record", o chanceler anunciou que fará nos dias 28 e 29 de maio - 17 dias depois da reunião de cúpula dos países da América do Sul e do Mundo Árabe - uma visita oficial a Israel. Para tanto, vai desligar-se da comitiva que acompanhará o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sua viagem ao Japão e à Coréia do Sul.

A iniciativa tem o claro objetivo de contornar o mal-estar causado pela realização do encontro dos chefes de Estado sul-americanos e árabes em Brasília, nos dias 10 e 11 de maio e pelas iniciativas de aproximação com o mundo árabe. Em dezembro de 2003, o presidente Lula realizou um tour por cinco países árabes e em fevereiro o próprio Amorim visitou nove países, em preparação para essa reunião de cúpula. O governo israelense vinha reclamando insistentemente dessas iniciativas.