Título: Comandante desmente que haja insubordinação militar
Autor: Lourival Sant'Anna
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/04/2005, Internacional, p. A12

QUITO - O novo ministro da Defesa, general Anibal Solón Espinoza, convocou ontem uma entrevista coletiva para desmentir rumores de insubordinação nas Forças Armadas e para exortar a população a se manter em calma. Espinoza, nomeado na quinta-feira pelo novo presidente Alfredo Palacio, também desmentiu que o ex-presidente Lucio Gutiérrez tivesse deixado a residência do embaixador brasileiro e encontrado refúgio numa unidade militar. "Isso é guerra psicológica", definiu Espinoza, ladeado pelos novos comandantes das Forças Armadas (ler ao lado). "Tenham confiança na instituição e no governo que está dirigindo o país."

Durante o dia circularam rumores de que um irmão de Lucio Gutiérrez, o deputado Gilmar Gutiérrez, teria tomado o controle do governo da cidade costeira de Manta com o apoio de um grupo de militares leais ao ex-chefe de Estado. Também correram versões de que uma facção militar em Quito continuaria apoiando Gutiérrez.

Mas o ministro disse que ontem à tarde os comandantes das três Forças fizeram contato com as unidades respectivas e não havia nenhuma movimentação.

Espinoza classificou os rumores de refúgio de Gutiérrez de "a maior estupidez". "Ao dar o asilo, a embaixada do Brasil se responsabiliza pela integridade física do coronel Gutiérrez", explicou o ministro, que sempre se refere ao ex-presidente pela sua patente no Exército. "Se a população tiver a possibilidade de pôr as mãos no coronel, a situação seria de inteira responsabilidade da embaixada do Brasil."

Saindo um pouco de suas atribuições, Espinoza respondeu a uma pergunta sobre por que os outros países não haviam reconhecido o novo governo. "Por uma razão simples: o governo atual está respaldado na Constituição, que diz que quando o presidente abandona o cargo, o vice assumirá pelo tempo que lhe falta. Não tem por que reconhecer." Gutiérrez, na verdade, não renunciou. Ele estava no Palácio Carondolet, sede do governo, na tarde de quarta-feira, quando 60 dos 100 deputados declararam o abandono do cargo e nomearam presidente o vice, Alfredo Palacio.

Espinoza explicou também por que os militares não detiveram Gutiérrez ao deixar o palácio rumo à residência do embaixador brasileiro. "Existe um plano na Casa Militar da presidência, um procedimento aprovado que o pessoal deve seguir para defender as instalações e a integridade fisica de quem estiver no palácio. A Casa Militar não recebeu nenhuma ordem de prender o presidente."