Título: Visita de cardeal em 1932 despertou em Ratzinger desejo de se tornar padre
Autor: AFP e EFE
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/04/2005, Vida&, p. A16

REGENSBURG, ALEMANHA Para Joseph Ratzinger, o caminho para o papado pode ter começado na primavera de 1932, quando uma limusine preta entrou no quarteirão do seu vilarejo bávaro. Dentro estava o cardeal Michael Faulhaber, o arcebispo de Munique, fazendo uma visita a um posto da arquidiocese. Ele desceu do carro para ir ao encontro de uma festa infantil de boas-vindas. Uma das crianças presentes era o pequeno Joseph Ratzinger, de 5 anos, que ficou deslumbrado. "Ele chegou em casa naquela noite e disse ao nosso pai: 'Quero ser cardeal'", lembra seu irmão mais velho, o padre Georg Ratzinger. "Não foi tanto o carro", disse ele, "mas foi a aparência do cardeal que causou tal impressão nele". Em sua casa, na quinta-feira, Georg, de 81 anos, lembrou-se do episódio como um indício dos sonhos da infância do irmão, mas também de uma certa inconstância infantil. Antes de conhecer o cardeal, Joseph estava determinado a se tornar pintor.

De certa forma, porém, a vida de Ratzinger se desenrolou a partir desse dia com um senso de direção inquebrantável: do seminário para padre, daí para teólogo, de teólogo para arcebispo e depois cardeal. E agora para uma etapa que, segundo Georg, seu irmão nunca esperou. "Nunca pensamos que haveria um papa alemão durante a nossa existência."

A Igreja Católica ainda é perseguida pelo seu papel inglório na época do nazismo, e os laços de Joseph Ratzinger com Faulhaber ilustram essas sombras. Figura ambígua durante a 2ª Guerra Mundial, os críticos dizem que ele não reagiu aos nazistas, Faulhaber fundou o colégio onde os irmãos estudaram e foi ele quem os ordenou padre. Georg não se perturba. "Nosso pai era inimigo do nazismo porque acreditava que estava em conflito com a nossa fé."

Ele se preocupa com a saúde do irmão e com as obrigações do posto de líder dos católicos. Segundo Georg Ratzinger, o papa Bento XVI, de 78 anos, sempre foi o menos robusto dos dois irmãos. Não gostava de esportes e preferia dedicar-se aos livros e à música.

Em conversas com amigos, vizinhos, ex-alunos e colegas, surge uma imagem paradoxal de Bento XVI: um homem cujas palavras duras e os pontos de vista inflexíveis escondem um lado mais suave, uma timidez e um instinto para evitar confrontos.