Título: Valor de mercado de empresas abertas cai R$ 32,7 bi neste ano
Autor: Agnaldo Brito
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/04/2005, Economia, p. B5

O valor de mercado das empresas de capital aberto no Brasil acumula queda de R$ 32,7 bilhões em 2005, revela levantamento da Economática. O estudo lastreado nos preços das ações no mercado secundária da Bolsa de Valores do Estado de São Paulo (Bovespa) comparou o preço dos papéis negociados em dezembro de 2004 com aqueles vendidos entre os dias 20 de março a 20 de abril. O resultado mostra que o valor de mercado das 261 companhias abertas com ações ordinárias ou preferenciais vendidas entre os dois períodos teve queda de 5%. O valor total recuou de R$ 833,12 bilhões para R$ 800,36 bilhões.

A perda de R$ 32,7 bilhões equivale a quase o total indicado pelo mercado para a AmBev ou duas vezes o preço da Eletrobrás. "A razão para esta queda está numa acomodação da Bolsa paulista iniciada em janeiro. Vale lembrar que a Bovespa fechou 2004 com um pontuação recorde. Há um período de ajuste", explica Einar Rivero, coordenador para a América Latina da Economática. O Índice Bovespa (Ibovespa) fechou o ano passado com uma pontuação recorde de 26.196 pontos.

De acordo com o analista, a "acomodação" dos preços dos ativos no mercado secundário de ações era prevista, já que houve durante 24 meses na Bovespa grande corrida pelos papéis, o que puxou os valores de mercado para cima. "Tudo indica que depois de toda a valorização ocorrida em dois anos, muitos investidores acharam que chegou a hora de realizar os lucros", explica. A "realização de lucros" aproveitou a liquidez do mercado para a venda dos papéis.

Pode ser cedo, mas a Economática acredita que a redução do valor de mercado das empresas brasileiras tem chance de estacionar no atual patamar. "Tudo vai depender dos resultados dos balanços do primeiro trimestre que começam a ser publicados agora. Balanços bons não significam necessariamente que a Bolsa volte a subir, mas pode fazer com que os papéis parem de cair", diz. Mas há uma dúvida relacionada aos efeitos do dólar sobre os exportadores brasileiros. A valorização do real pode afetar o lucro das empresas, o que também influencia nos preços das ações.

EFEITO BANCÁRIO

A queda geral não foi maior graças ao setor financeiro. Os bancos lideraram a valorização no período. Segundo o levantamento, o valor de mercado dos bancos subiu de R$ 133,7 bilhões para R$ 146,8 bilhões entre o final do ano passado e o dia 20 de abril. Em termos de porcentagem, um ganho de 10%. As seguradoras e as construtoras também tiveram seus valores elevados no mercado. Mas é pequena a relevância dos números dos dois segmentos (veja quadro acima).

Já as empresas de telecomunicações voltaram a decepcionar. Perderam R$ 10 bilhões em valor no período analisado. Para efeito de comparação, o setor perdeu uma Souza Cruz entre o final do ano passado e o mês de abril. Essa queda levou telecomunicações à terceira posição no ranking de valores dos ativos entre os 19 setores avaliados.No final de 2004, as empresas de telecomunicações ocupavam o segundo posto, que está agora com as companhias de petróleo e gás.

EMPRESAS

Segundo Rivero, os efeitos dessa redução não deverão criar problemas para as empresas. "Isso ocorreria se as empresas tivessem colocando novos papéis no mercado, mas isso não está ocorrendo", explica. Para os investidores, segundo Rivero, o melhor é aguardar. "Investimentos no mercado de ações é sempre uma aplicação de risco e de longo prazo."