Título: China quer vender carros nos EUA
Autor: Keith Bradsher
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/04/2005, Economia, p. B7

XANGAI - Redutos industriais desde a região dos Grandes Lagos até Alemanha, acautelai-vos - aí vem a indústria automobilística chinesa. Na quinta-feira, um executivo sênior da DaimlerChrysler, Ruediger Grube, surpreendeu um salão cheio de jornalistas e a seus próprios assessores presentes ao Salão do Automóvel de Xangai ao revelar que a empresa pretende exportar carros pequenos da China para os Estados Unidos.

A DaimlerChrysler já está em negociações com uma de suas parceiras da joint venture chinesa para construir uma fábrica para exportar, disse ele, e que gostaria de resolver os detalhes e tomar a decisão final sobre o projeto no segundo semestre deste ano.

Mas os carros de tal joint venture seriam apenas uma parte do que parece estar tomando a forma de um amplo ataque às montadoras de carros globais por parte de empresas chinesas e de divisões chinesas de empresas multinacionais.

As exportações de autopeças da China - de tudo, desde componentes para freio de mão da Delphi Automotive a capas para assento de carro da Johnson Control - já estão aumentando em países em todo o mundo. Já começaram exportações em volume razoável de carros totalmente montados em montadoras de propriedade chinesa, tais como a Hafei e Chery para países em desenvolvimento da América do Sul, África e Oriente Médio.

Agora, as negociações da DaimlerChrysler tornam cada vez mais provável que um número significativo de carros seja embarcado da China para os Estados Unidos e Europa já em 2008.

Robert Lutz, vice-presidente do conselho da General Motors, disse aqui que a expectativa é que ao menos uma das montadoras nascidas na China tenha sucesso exportando para todo o planeta dentro dos próximos cinco anos.

"Estamos nos aproximando deste ponto rapidamente", disse Lutz. "Eu não me arriscaria a dizer qual delas será".

Até recentemente, o alto custos das autopeças, a escassez de aço de alta qualidade, a falta de engenheiros experientes e um histórico de inconstância na qualidade impediram a China de usar sua mão-de-obra extremamente barata para captar uma parcela significativa do mercado automotivo global.

Mas todos esses problemas, incluindo a qualidade, estão gradualmente sendo resolvidos, mesmo que os operários chineses, que trabalham a US$ 2,00 ou menos, incluindo benefícios, continuem entre os mais mal pagos dos mundo.

"Em termos de qualidade, os carros da China e os carros da Coréia do Sul são a mesma coisa", disse J.M. Noh, presidente da Beijing Hyundai e um especialista em qualidade automotiva que passou 15 anos trabalhando nos departamentos de controle da qualidade da Coréia do Sul antes de vir para a joint venture da empresa na China.

A perspectiva do surgimento de carros totalmente montados na China em salões de automóveis nos Estados Unidos e na Europa provavelmente irá desencadear confrontos internacionais em relação ao comércio e às atuais políticas da China.

Embora a unidade Chrysler da DaimlerChrysler atualmente não venda um verdadeiro subcompacto do tipo que a empresa agora se propõe a importar da China - o menor carro da empresa atualmente oferecido nos Estados Unidos é o compacto Dodge Neon - o planejamento para tal carro tende a refrescar a memória de como o Japão e a Coréia do Sul começaram dominando o mercado americano de subcompactos e depois passaram para veículos maiores.