Título: Governo investe em médicos da família e aproxima SUS do sistema cubano
Autor: Lilian Primi
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/04/2005, Nacional, p. A9

O Ministério da Saúde vai usar a rede de unidades básicas do Sistema Único de Saúde (SUS) para formar médicos da família. Para isso começou em março a treinar profissionais que atuam como tutores. No segundo semestre, parte dos postos vão oferecer cursos de especialização e, em 2006, programas de residência em saúde da família e atenção básica. "Queremos ampliar a oferta de residência e melhorar o atendimento", diz Ricardo Ceccim, diretor do Departamento de Gestão da Educação na Saúde do Ministério da Saúde.

A presença dos residentes nas unidades básicas é, em parte, uma exigência das novas diretrizes curriculares adotadas a partir de 2002 pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) para cursos de medicina. "Elas reduzem o caráter tecnicista dos cursos, que não formam profissionais capazes de atender às necessidades do sistema", afirma o diretor. E aproxima o modelo brasileiro daquele adotado por Cuba, fortemente criticado pelo Conselho Federal de Medicina.

O programa começou em março, com a criação de três turmas de 400 alunos, no Rio Grande do Sul, Paraná e Maranhão. Na primeira semana de abril, foram abertas turmas na Paraíba, no Ceará e em Alagoas e, na última semana, no Distrito Federal, em Mato Grosso, na Bahia e em Sergipe. Serão treinados 14 mil tutores até o fim do ano, 6 mil até junho.

"Essas equipes já podem começar a trabalhar", explica Ceccim. O programa vai facilitar a oferta de residências também nas áreas de saúde preventiva, gestão de serviços e saúde mental, além dos programas de saúde da família.

MAL-ESTAR

As diretrizes aprovadas pelo MEC em 2002 estão presentes na concepção da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Acre (Ufac), apontada pelo diretor do Conselho Regional de Medicina local, José Wilkens, como uma escola que segue as mesmas orientações da Escuela Latinoamericana de Ciências Médicas (Elam), a escola cubana fundada em 1999 para atender exclusivamente a estudantes estrangeiros. A Ufac recebeu a primeira turma em 2002 e forma médicos generalistas, capazes de atender às necessidades regionais.

A comparação com a Elam vem causando mal-estar entre o conselho de medicina e a coordenação do curso, que nega a semelhança. "O que provoca a confusão são características previstas nas novas diretrizes curriculares, traduzidas pela prática de levantamento epidemiológico, realizado pelos alunos, e de estágio, que acontece desde os primeiros anos do curso nos postos de saúde locais", explica Nilton Ghiotti de Siqueira, subcoordenador do curso de medicina da Ufac.