Título: Bento XVI pede responsabilidade ética aos meios de comunicação
Autor: José Maria Mayrink
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/04/2005, Vida&, p. A20

Ao receber em audiência, ontem de manhã, os jornalistas credenciados para a cobertura dos funerais de João Paulo II e eleição de seu sucessor, o papa Bento XVI afirmou que os meios de comunicação só podem prestar um serviço positivo ao bem comum quando se comportam com responsabilidade e consciência. "Não se pode deixar de pôr em evidência a necessidade de uma responsabilidade ética de quem trabalha nesse setor, especialmente quando se trata de uma busca sincera da verdade e da salvaguarda da centralidade e da dignidade da pessoa humana", disse o papa, no trecho de seu discurso lido em alemão. Além da sua língua pátria, Bento XVI usou o italiano, o inglês e o francês para saudar os repórteres, fotógrafos e cinegrafistas vindos de todos os continentes - cerca de 1.800 profissionais que participaram da audiência no Auditório Paulo VI, no Vaticano. No entanto, ele não falou em espanhol, idioma da maior parte dos católicos do mundo. Em resposta às reclamações de jornalistas, o porta-voz da Santa Sé, Joaquin Navarro Valls, adiantou: "Da próxima vez, ele falará em espanhol. É que ele queria uma cerimônia breve."

Suas primeiras palavras foram de agradecimento: "Pode-se dizer que, graças a seu trabalho, por várias semanas a atenção do mundo inteiro se fixou na basílica, na Praça de São Pedro e no Palácio Apostólico, onde o meu predecessor, o inesquecível papa João Paulo II, terminou serenamente sua existência terrena, e onde, em seguida, na Capela Sistina, os senhores cardeais me elegeram como seu sucessor".

Lembrando que João Paulo II "foi o artífice de um diálogo aberto e sincero" com o mundo da comunicação social em seu pontificado, Bento XVI prometeu seguir pelo mesmo caminho. "É meu desejo levar adiante esse proveitoso diálogo", disse, sob aplausos. A audiência durou 15 minutos. Bento XVI entrou no auditório às 11 horas e fez um largo gesto, sorrindo com os braços abertos. Antes de falar, ouviu uma saudação do presidente do Conselho Pontifício das Comunicações Sociais, d. John Patrick Foley.

Muitos jornalistas ficaram decepcionados, porque esperavam que ele entrasse pelo corredor central e não por uma porta lateral - e que conversasse com as pessoas mais próximas, mesmo sem dar entrevista. O papa falou apenas com os 12 bispos que assistiram à audiência e beijaram sua mão.

"Eu disse a Bento XVI que estava muito feliz com sua eleição e, ressaltando que falava em nome dos 420 bispos brasileiros, desejei-lhe um longo pontificado", informou d. Amaury Castanho, bispo emérito de Jundiaí (SP). Ao ouvir os votos de longo papado, Ratzinger, de 78 anos, sorriu.

Os jornalistas receberam e interromperam Bento XVI com aplausos, mas quem fez a festa foi um grupo de crianças de uma escola da Sardenha. "Viemos com 23 alunos conhecer Roma e, ao saber da audiência, pedimos para participar", disse a professora Giovanna Arglolas. "Benedetto, Benedetto", gritaram as crianças em coro, do fundo do auditório, como se tivessem ensaiado a manifestação. Rossano Sanna, de 8 anos, gostou de ver o papa, mas falou que não era Ratzinger o candidato dele. "Queria aquele africano", disse ele, referindo-se a Francis Arinze. "Nada disso, a gente preferia o Pompedda", corrigiu a professora. O cardeal Mario Francesco Pompedda, de 76 anos, nasceu na ilha da Sardenha.

DIA DO TRABALHO

De acordo com o jornal italiano Corriere dela Sera, o cardeal d. Cláudio Hummes, arcebispo de São Paulo, teria sugerido a Bento XVI aproveitar as comemorações do dia 1º. de Maio, dia dos trabalhadores, para fazer um pronunciamento com tom social. D. Cláudio teria apelado à "sensibilidade" do papa e demonstrado a importância de se dirigir pela primeira vez aos trabalhadores.

Na Alemanha, o jornal Bild informou que o papa teria oferecido um cargo na Cúria para o cardeal reformista alemão Karl Lehman, presidente da Conferência Episcopal da Alemanha e até então um crítico do cardeal Joseph Ratzinger.