Título: Cardeal acha importante Igreja abordar o divórcio
Autor: AFP e EFE
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/04/2005, Vida&, p. A22

Bento XVI pode anunciar avanços na Igreja muito antes do que imaginam seus maiores críticos, segundo o cardeal espanhol Julián Herranz. Antes de ser eleito papa na terça-feira passada, o cardeal Joseph Ratzinger preparou quatro documentos, considerados "bombas teológico-doutrinárias", que prevêem, entre outras coisas, a reintegração dos divorciados à Igreja. O cardeal Herranz, chefe do Conselho Pontifício para os Textos Legislativos, acha que a questão dos divorciados católicos que casaram novamente deverá necessariamente ser abordada pela Igreja no futuro para que se dê uma resposta aos fiéis. Com esta possível abertura, Bento XVI seria encarado como um papa inovador e iria ao encontro dos anseios de milhares de católicos que foram excluídos da Igreja por um simples fracasso no casamento.

Em entrevista publicada ontem pelo jornal La Repubblica, o cardeal Herranz define como um assunto "delicado" excluir a administração dos sacramentos impostos pelas regras vaticanas para os divorciados que se casam novamente no civil. Segundo a atual doutrina católica, divorciados em nova união civil não podem nem sequer receber a eucaristia.

"É uma questão que a Igreja necessariamente deverá abordar, aprofundar, confrontar com as expectativas dos fiéis, para tentar dar respostas sérias à luz das verdades doutrinais", diz o cardeal.

Segundo o jornal, a questão dos divorciados que casam de novo foi objeto do trabalho do cardeal Joseph Ratzinger, como chefe da Congregação para a Doutrina da Fé, até pouco antes de ser escolhido papa, tarefa que seu sucessor na congregação deverá retomar.

Neste sentido, o cardeal Herranz diz que este é um assunto sobre o qual "será preciso refletir à luz do Direito Divino, tendo em conta as expectativas, as várias matizes sociais, teológicas e humanas ligadas a um tema tão importante".

"Não descarto que no futuro os divorciados que casam novamente e os sacramentos possam ser temas a serem aprofundados na Igreja", acrescentou.

APOSENTADORIA

Entre as questões que a Igreja deverá analisar, segundo Herranz, está também o eventual aumento da idade para a aposentadoria dos bispos, atualmente estabelecida em 75 anos, mas neste caso isto "não diz respeito ao Direito Divino, mas ao Eclesiástico".

"(O tema) deverá ser analisado considerando as novas condições sociais (remédios, tratamentos, progressos da pesquisa científica sobre a terceira idade...) que giram em torno dos que completaram 75 anos", afirma.

O cardeal Herranz também fala sobre a questão da unidade dos cristãos, que Bento XVI destacou como um dos pontos que serão mais significativos do seu pontificado.

Para o cardeal espanhol, isso "está em linha com a Igreja formada por João Paulo II, para a qual Bento XVI olha com grande atenção". E completou: "O importante é trabalhar todos juntos e seguir por esta via ecumênica, através da qual será possível chegar à unidade cristã à luz da verdade evangélica", conclui.