Título: Joseph Ratzinger foi eleito porque 'Deus assim o quis'
Autor: D. Amaury Castanho
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/04/2005, Vida&, p. A22

Temos um novo papa, Joseph Ratzinger, que se chamará Bento XVI, nome que escolheu. Encontrava-me na Praça de São Pedro, na tarde do dia 19, um dos 300 mil fiéis que o aclamaram pela primeira vez, uma hora depois de a fumaça branca ter saído da chaminé do teto da Capela Sistina. Por que Joseph Ratzinger e não outro, quando havia 'papáveis' da América Latina, como o brasileiro Cláudio Hummes e o hondurenho Oscar Rodríguez Maradiaga, da África (Francis Arinze), da Itália (Dionigi Tettamanzi e Angelo Scola), além de outros mais? A melhor resposta é esta: Deus, o Espírito Santo e pelo menos dois terços dos eleitores assim o quiseram, em menos de 24 horas, no quarto escrutínio do conclave.

Conheço pessoalmente o novo papa. Em três visitas ad limina (que os bispos fazem a Roma a cada cinco anos), estive com ele, juntamente com os 65 bispos do Estado de São Paulo, o regional Sul 1 da nossa CNBB.

Ratzinger nasceu em 1927 e foi professor respeitado de Teologia em pelo menos quatro universidades da Alemanha. Pastoreou a arquidiocese de Munique de 1977 a 1981.

João Paulo II, Karol Wojtyla, lhe confiou a Congregação para a Doutrina da Fé e a presidência da Comissão Teológica Internacional. É dos maiores teólogos da Igreja, desde o Concílio Vaticano II, no qual assessorou o episcopado alemão.

Corajoso defensor da fé, dos valores humanos e evangélicos, entre eles os da família e da vida, da reta sexualidade, foi incompreendido por alguns, mas respeitado por todos, por sua sabedoria e coragem, sua fidelidade ao Evangelho, à Igreja, ao venerado papa João Paulo II e à própria vocação sacerdotal.

Mais que o Brasil e a América, a Europa secularizada, liberal e permissiva, sem rumo espiritual, estava e está carente deste novo pastor. Bento XVI está mais que preparado para o pastoreio da Igreja no mundo de hoje. Será o sucessor de São Pedro mais preparado para dialogar com o mundo da cultura e da ciência, para responder aos desafios da genética e da bioética, aos problemas internos da Igreja - também ela carente de um guia sábio, acolhedor e paterno.

Deus seja louvado pelo pontífice que acaba de nos dar. Devemos-lhe respeito, obediência e amor. Também ele "veio das margens da Genesaré, do mar da Galiléia". Ali, inicia-se a história do apóstolo Pedro e de todos os seus sucessores, como afirmou, em outubro de 1978, o acadêmico francês Jean Guitton.