Título: Americanos recebem pouca atenção
Autor: Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/04/2005, Economia, p. B3

Enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmava, em Brasília, que o Brasil "tirou a Alca da pauta", representantes da Florida FTAA, entidade que faz campanha para Miami ser escolhida como sede da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), peregrinavam por gabinetes em busca de algum apoio. Os representantes encerraram sua visita ao Brasil, na semana passada, sem receber nenhuma declaração oficial do governo brasileiro. Miami disputa a sede da Alca com Port of Spain, capital de Trinidad e Tobago, Cidade do Panamá, Puebla e Cancún no México, San Juan, em Porto Rico, Atlanta, Chicago e Houston.

"Não viemos com a idéia de voltar para os EUA com o endosso do presidente Lula à candidatura de Miami", diz Jorge Arrizurieta, presidente do Florida FTAA, entidade público-privada liderada pelo governador da Flórida, Jeb Bush. "No tempo devido, o governo Lula fará uma declaração positiva."

Miami já recebeu o apoio da Nicarágua, Honduras, Guatemala, República Dominicana e até do Uruguai, "sócio rebelde" do Mercosul. Costa Rica e Colômbia declararam Miami como segunda opção. A decisão sobre a sede da Alca pode sair na próxima reunião ministerial, ainda sem data marcada.

PARCERIA

Essa é a segunda missão da comitiva da Flórida ao Brasil desde o início do governo Lula. O Estado americano é um dos principais parceiros comerciais do Brasil. De 2003 a 2004, o comércio entre o Brasil e a Flórida cresceu 21,9%, chegando a US$ 10,5 bilhões. O Brasil é o maior parceiro comercial da Flórida. A Flórida, por sua vez, é o terceiro maior parceiro do Brasil, atrás apenas dos Estados Unidos e da Argentina e à frente da China.

Arrizurieta e Glenda Hood, secretária de Estado da Flórida, encontraram-se em Brasília com o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. "Deixamos Brasília muito animados com as conversas que tivemos", disse Glenda, que convidou Dirceu para visitar Miami. O governo brasileiro não emitiu nenhuma nota a respeito da visita.

Apesar do interesse demonstrado pelos americanos, Miami, um dos principais centros de negócios dos brasileiros nos EUA, ficou sem chefe do setor comercial do consulado durante quase um ano. "Não tínhamos interlocutor nem informações para fazer negócios, era uma reclamação geral dos empresários em Miami", diz um empresário que mora na cidade. Segundo ele, o governo negligencia a Flórida. "Só há missões oficiais da Flórida para o Brasil. Já do Brasil para a Flórida, só a do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, em março."

MISSÕES

As missões que se dirigem ao país são normalmente organizadas pela Câmara Americana de Comércio, por empresários ou pela Agência de Promoções de Exportações do Brasil (Apex), que leva pequenas e médias empresas.

"Sentimos falta de missões comerciais para os EUA chefiadas pelo presidente, que vendem o País", diz José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). "Quando os empresários brasileiros vão sozinhos, eles precisam vender primeiro o País, e depois seus produtos."

Já o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, esteve em 11 missões nos EUA, três delas comerciais. Na semana passada, Furlan foi para a Califórnia. O objetivo da viagem era abrir oportunidades para exportação de etanol.

Segundo Osvaldo Douat, coordenador da Coalizão Empresarial e presidente do conselho de Integração Internacional da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a entidade está fazendo uma consulta com líderes empresariais para montar missões empresariais e identificar nichos de mercado nos EUA. "A Apex faz promoção comercial com micro e pequenas empresas nos EUA. Mas faltam mecanismos para as médias e grandes", diz. "Não estamos investindo nos EUA com a intensidade que o mercado americano merece."

MERCOSUL

Mas, apesar das críticas dos empresários à estratégia Sul-Sul do governo, as exportações para a América do Sul já superam as vendas para os Estados Unidos. De janeiro a março, os EUA absorveram 21% das exportações brasileiras, enquanto os países sul-americanos ficaram com 21,8% das vendas, segundo dados da Secex.