Título: A feliz união de pesquisa com espírito empreendedor
Autor: Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/04/2005, Economia, p. B4

Os pólos de inovação industrial combinam investimento em pesquisa e estímulo ao espírito empreendedor. Grandes empresas que apóiam o desenvolvimento de tecnologia e centros de pesquisa universitários acabam por incentivar o surgimento de companhias inovadoras ao seu redor. É o caso de São José dos Campos (SP), que soma invejáveis colocações em rankings de produção industrial e tecnológica. No ano passado ficou em primeiro lugar nas exportações do Estado de São Paulo, tendo movimentado US$ 4,7 bilhões. É o terceiro município do País em produção industrial. Dados da Fundação Seade mostram que em sete anos (de 1999 a 2003) os investimentos das indústrias somaram US$ 9,1 bilhões. A criação do Centro Técnico Aeroespacial (CTA) e do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) atraiu centenas de empresas e possibilitou rápido avanço em pesquisas tecnológicas. Incubadoras também aceleraram a produção. Uma das indústrias que surgiu assim foi a Quimlab, que fatura R$ 1,5 milhão por ano, a única do País que desenvolve e produz soluções químicas (antes importadas) usadas em grande parte de toda produção industrial.

"São padrões químicos que servem para medir a confiabilidade dos materiais usados na fabricação dos produtos", explica um dos sócios, Nilton Pereira Alves. A Quimlab produz cerca de 250 padrões químicos que servem, por exemplo, para que a Embraer verifique a qualidade das ligas aeronáuticas usadas na fabricação dos aviões. "Não temos concorrentes no Brasil, só os importados."

Outra cidade geradora de tecnologia é Porto Alegre (RS). O secretário municipal da Indústria e Comércio, Idenir Cechin, cita o ambiente universitário como um dos principais fatores. Num raio de 35 quilômetros estão instaladas a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e a Pontifícia Universidade Católica (PUC), ambas na capital; a Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), em Canoas; a Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), em São Leopoldo; e a Federação de Estabelecimentos de Ensino Superior (Feevale), em Novo Hamburgo, instituições que formam mão-de-obra requisitada em todo o País e incentivam a criação de empresas em suas dependências.

Foi esse ambiente e a oferta de bons técnicos e engenheiros que provocaram a proliferação de empresas fornecedoras de sistemas de automação industrial, de comunicação de dados e de desenvolvimento de soluções tanto em grande escala como para problemas específicos. Uma dessas empresas é a Cognix Sistemas de Automação, nascida há nove anos da iniciativa de três engenheiros da área eletrônica que queriam vender tecnologia de ponta como representantes comerciais e foram descobrindo que poderiam agregar valor aos seus produtos.

Hoje eles desenvolvem tecnologias incorporadas à câmeras de controle de processos industriais e à sistemas de testes de produtos acabados. "Em nossa fase de vendas percebemos que havia demanda pelo desenvolvimento de aplicativos adequados à situação de cada usuário", diz um dos diretores, Léo Berger, que concorda com a tese de Cechin de que Porto Alegre e arredores são grande centro de formação de profissionais.

No caso de Curitiba (PR), existem 4.322 empresas no setor de tecnologia, num total de 121.877. Umas das empresas tecnológicas sediadas na cidade é a Automat Engenharia, criada em 1999, em meio às discussões sobre a privatização da Companhia Paranaense de Energia (Copel). Vinte funcionários, com média de 17 anos de trabalho na estatal, decidiram deixá-la para fundar a Automat. O objetivo era e continua sendo pesquisar e desenvolver soluções para o mercado de automação e controle. Cresceu e reúne hoje 80 funcionários diretos e 600 terceirizados.

O investimento em pesquisa e desenvolvimento fica com 8% do faturamento médio de R$ 10 milhões. A empresa detém tecnologia para automação e controle no setor elétrico, medição integrada de água, gás e energia elétrica e se prepara para entrar na monitoração e supervisão do meio ambiente. Os sistemas podem enviar dados rapidamente para centros de controle que emitem sinais de alerta quando algo estranho ocorrer, diz o presidente da empresa, Carlos Eduardo Kaiut.

Para o funcionário Paulo César Peixoto Sobrinho, técnico em eletrotécnica e estudante de tecnologia de processamento de dados, os quatro anos de atividade na Automat foram fundamentais. "Com certeza aprendo mais aqui dentro."

Segundo Dorival Ignácio, também diretor, este ano a Automat começou a exportar equipamentos de controle de tensão elétrica por meio de parceria com uma empresa inglesa. O desenvolvimento de sistemas elétricos colocou a empresa entre as 100 melhores em inovação tecnológica na Feira de Hannover, na Alemanha, e lhe conferiu o Prêmio Finep de Inovação Tecnológica em 2003 e 2004.